Meus heróis
Hoje foi dia de saudadear como dizia Guimarães Rosa. Tive saudade de quem eu não pude conhecer... Já se passaram quase 21 anos e sempre que você me vem à cabeça, tenho pontinhas de saudade. Não posso falar em lembranças ou em recordações, porque não as tenho, não deu tempo de nos conhecermos, quando nasci você findava sua missão humana e desde então só conheço de você o que escuto dizer, falam sobre o grande homem que foi, da sua honestidade implacável, do pai disciplinador e do esposo companheiro e fiel. Ás vezes pego minha mãe chorando baixinho, ela é uma eterna apaixonada por você e se dedicou a nos contar muitas historias suas, são as mesmas histórias que a fazem chorar por não te ter mais por aqui, são as mesmas histórias que me entristecem por não tê-lo conhecido e são essas mesmas histórias que o mantém vivo em nós. Ela costuma dizer que Deus lhe deu algo que a muito queria, mas em contrapartida retirou algo que muito amava. Gostaria de fazê-la entender que os planos de Deus não funcionam bem assim, a minha chegada foi presente dele através do milagre da vida que por sinal é encantador, mas a vida de todos nós se finda quando é chegada a hora, e a dele chegou quase que no exato momento em que a minha vida começava. Para que eu nascesse ele não precisaria ir, Deus não dá algo e toma outra coisa de igual importância, os fatos aconteceram e acredito mesmo que Ele já sabia que a missão do meu avô estava no fim e então para amenizar a dor da minha mãe ele me deu a ela a fim de preencher o vazio que tomaria o coração dela sete dias depois. Hoje a saudade é duplicada, minha avó não resistiu de saudade e foi ao seu encontro, daqui morremos um pouquinho de saudade a cada dia, mas certos de que iremos nos encontrar em um dia qualquer. Tenho um amigo que costuma dizer que os heróis do Cazuza morreram de overdose, mas que seus heróis de fato, morreram de dignidade e todas as vezes que o escuto dizer isso, respiro fundo e digo baixinho quase que num sussurro: os meus também.