Os Livros e os Sonhos
Os Livros e os Sonhos
E foi assim que vendo meu pai assentado na sala sempre lendo que tudo começou: o que faz com que ele, tão distraído se abstraia de seu corpo, deixando-o ficar tão quieto, ali na poltrona parecendo estar em outro mundo?
O cair da tarde e o levantar da noite faziam minhas irmãs comentarem aquilo que haviam lido ou estavam lendo: outras dimensões se reproduziam com personagens que desenvolviam enredos.
Eu era despertado para o mundo dos livros: o sonho dos outros em que eu podia ser o herói ou o vilão segundo a cena que se desenrolava.
Na primeira escola os contos eram tão medievais com tolas princesas irreais e vítimas das situações e príncipes narcisistas. Eu queria ser mesmo era Borba Gato ou Fernando Dias Pais. Quantas vezes eu descobri continente sendo Cristóvão Colombo, Pedro Álvares Cabral ou Marco Polo. Eram mais reais e concretos.
Depois veio o Tronco do Ipê que tive que cortá-lo em um final de semana para fazer a prova de português que seria na segunda-feira seguinte. No embalo vieram Escrava Isaura e Memórias de um Sargento de Milícias. Guardo em minhas as que foram de Leonardo Pataca.
Eu torci pelo Corcunda de Notre Dame e sua Esmeralda. Eu me enamorei de Iracema, a virgem dos lábios de mel. Eu me excitei com a descrição de cenas bobas quando a mulher do delegado o traiu com o oceanógrafo de O Tubarão. Se isto me excitou imagine o que eu fiz quando eu li os meus primeiros livros pornográficos?!
O Último Tango em Paris eu achei uma bobagem e muito “fure-furô” que as pessoas disseram – assisti ao filme depois e nem por isto também.
Eu fiquei possuído quando li O Exorcista e tive que passar anos exorcizando meus medos. Eu chorei ao ler Sem Família e hoje eu rio disto. Eu me encantei com O Pequeno Príncipe, Fernão Capelo Gaivota e Através do Espelho. Eu me redimi lendo O mundo de Sofia e me enterneci com Memórias de Minhas Putas Tristes.
Eu ainda me perco nestes sonhos escritos por outros para nós. É uma espécie de voyeurismo ler/imaginar/decodificar o que se passa na mente daqueles desavergonhados que expõe para nosso deleite suas mentalidades: perspectivas e frustrações.
Leonardo Lisbôa
Barbacena, 01/10/2015
ESCREVA PARA O AUTOR:
conversandocomoautor@gmail.com
Os Livros e os Sonhos
E foi assim que vendo meu pai assentado na sala sempre lendo que tudo começou: o que faz com que ele, tão distraído se abstraia de seu corpo, deixando-o ficar tão quieto, ali na poltrona parecendo estar em outro mundo?
O cair da tarde e o levantar da noite faziam minhas irmãs comentarem aquilo que haviam lido ou estavam lendo: outras dimensões se reproduziam com personagens que desenvolviam enredos.
Eu era despertado para o mundo dos livros: o sonho dos outros em que eu podia ser o herói ou o vilão segundo a cena que se desenrolava.
Na primeira escola os contos eram tão medievais com tolas princesas irreais e vítimas das situações e príncipes narcisistas. Eu queria ser mesmo era Borba Gato ou Fernando Dias Pais. Quantas vezes eu descobri continente sendo Cristóvão Colombo, Pedro Álvares Cabral ou Marco Polo. Eram mais reais e concretos.
Depois veio o Tronco do Ipê que tive que cortá-lo em um final de semana para fazer a prova de português que seria na segunda-feira seguinte. No embalo vieram Escrava Isaura e Memórias de um Sargento de Milícias. Guardo em minhas as que foram de Leonardo Pataca.
Eu torci pelo Corcunda de Notre Dame e sua Esmeralda. Eu me enamorei de Iracema, a virgem dos lábios de mel. Eu me excitei com a descrição de cenas bobas quando a mulher do delegado o traiu com o oceanógrafo de O Tubarão. Se isto me excitou imagine o que eu fiz quando eu li os meus primeiros livros pornográficos?!
O Último Tango em Paris eu achei uma bobagem e muito “fure-furô” que as pessoas disseram – assisti ao filme depois e nem por isto também.
Eu fiquei possuído quando li O Exorcista e tive que passar anos exorcizando meus medos. Eu chorei ao ler Sem Família e hoje eu rio disto. Eu me encantei com O Pequeno Príncipe, Fernão Capelo Gaivota e Através do Espelho. Eu me redimi lendo O mundo de Sofia e me enterneci com Memórias de Minhas Putas Tristes.
Eu ainda me perco nestes sonhos escritos por outros para nós. É uma espécie de voyeurismo ler/imaginar/decodificar o que se passa na mente daqueles desavergonhados que expõe para nosso deleite suas mentalidades: perspectivas e frustrações.
Leonardo Lisbôa
Barbacena, 01/10/2015
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conversandocomoautor@gmail.com