DOMINGO NA ESTEIRA

Domingo.

Fulana viajou, Ciclano foi beber caldo de cana, Beltrano levou a cadela, Mimosinha, para passear.

Há muito sol lá fora, as moradias bem douradas e as árvores escolheram o melhor tom do verde. Mostram que gostou da última chuva, a de ontem, embora o vento raivoso as tenha agitado demasiadamente. Assim é a vida, um pouco de cada coisa, safanões e carinho.

Doutor da saúde insiste na movimentação física, eu ponho meus músculos em movimento. A esteira foi comprada e eu, dentro da minha disciplina (esta que é só minha, com a qual me acerto) não vou me dar a decepção de jogar dinheiro fora, menos ainda ao Doutor da saúde. Mesmo sendo domingo ensolarado, nela (a esteira) subo cheia de decisão. Neste domingo, o meu não pede cachimbo. Vou à luta para tirar alguns líquidos e, digamos, alguns glicerídeos de ácidos graxos. Poderia dizer adiposidade ou tecido adiposo, mas sou traumatizada com esses termos. Não gosto deles.

Voltemos à esteira. Organizei o ambiente para meus trinta minutos seguintes. Muita água antes, janela bem aberta para receber o vento, TV ligada à procura de um canal que me agradasse. Fui passando, rapidamente, por eles (antes de ligar a esteira). Opa, Inezita Barroso, ícone da cultura sertaneja, cantora, instrumentista e pesquisadora do folclore brasileiro está cantando “Amo-te Muito” de João Chaves. Linda canção que havia muito eu não ouvia. Não fosse este domingo na esteira, talvez jamais a ouvisse novamente. Obrigada, Inezita:

“Amo-te muito, como as flores amam

O frio orvalho que o infinito chora.

Amo-te como o sabiá da praia

Ama a sanguínea e deslumbrante aurora.

Oh! Não te esqueças que te amo assim.

Oh! Não te esqueças nunca mais de mim.”

Isto é presente, como dizem por aí, dos deuses! Um poema cantado, súplica e declaração de amor em versos musicados! Claro, imediatamente subi na esteira. Já estava valendo a pena. Eu, feliz já começava a transpirar. Águas salgadas.

Rapidamente, bem rapidinho mesmo, entrou Rolando Boldrin com seu Sr. Brasil. A esteira aumentava a velocidade, meus passos obedeciam e veio a primeira canção, para abrir o programa. Certo temor indisfarçável pegou-me de jeito. E agora? O que vem? Preciso de algo que não me tire esta emoção.

Novamente, os deuses mostraram-me que estavam do meu lado. Afinal, esteira no domingo ensolarado ninguém merece. Lá estava Jair Rodrigues, excelente cantor brasileiro, já cantando no céu dos rouxinóis e das cotovias, desde maio de 2014, infelizmente. Cantava (para mim naquele momento) a beleza de “Viola Enluarada” de Marcos Valle.

“A mão que toca um violão

Se for preciso faz a guerra,

Mata o mundo, fere a terra.

A voz que canta uma canção

Se for preciso canta um hino,

Louva à morte.

Viola em noite enluarada

No sertão é como espada,

Esperança de vingança. “

Sem dúvida, meu domingo na esteira foi melhor que um domingo na rede.

“Liberdade, liberdade, liberdade” oh! Não te esqueças nunca mais de mim! Valeram os trinta minutos dentro da minha bagunçada disciplina e o Doutor da saúde gostará de saber que já perdi cinco quilos.

Dalva Molina Mansano

11:49

04.10.2105

Dalva Molina Mansano
Enviado por Dalva Molina Mansano em 04/10/2015
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