A cadeira e a vida

É duro você admitir que aquela velha cadeira de balanço na qual você adora descansar, ouvindo aquele rangido tão conhecido, um objeto que só tem valor estimativo, vai sobreviver a você, como sobreviveu a seu pai. É um móvel de família´, antigo, serviu e serve a várias gerações. As pessoas passam e a danada fica, no máximo trocam a palhinha e mandam dar uma mão de verniz.

De repente você vai ficando com raiva da cadeira porque sabe que ela vai sobreviver a você, acha isso uma injustiça. Não é capaz nem de relevar a raiva, quem sabe repetindo a frase conformista dos franceses: "Ces't la vie!". Pelo contrário grita raivosa para seus botões: - Porra, é uma inustiça a merda de uma cadeira viver mais do que eu".

Você passa alguns dias sem nem olhar paa ela, intrigado, de mal, com raiva, mas no íntimo sabe que não é dela que estácom raiva e nem fugindo, mas da verdade sobre a finitude da vida.

Faz parte do show da vida esses momentos de inconformismo e revolta até com os velhos objetos de casa. Você chega a pensar em vender a casa, se desfazer de todios os objetos e mudar de cidade, começar tudo de novo do zero. Mas logo cai na real e entende que é besteira porque a finitude da vida é irreversível, aqui e em qualquer lugar. Se há algo que ninguém consegue reverter e que nivela pobres e ricos é a morte física.

Para fugir desse tormento você procura ajuda na religião começa um frisson religioso, entra num desses movimentos de fanáticos e alienados saltitantes, que fazem até bunda-canasca, cabriolas e uivam feitos loucos, pensa que assim garante um triplex no céu, e tome saracoteio e reza. Você vira um santinho do pau ôco.

Só que enquanto se dedica a essa fase de alienação, você esquece da vida. Esquece que o melhor é viver de verdade, raspando o cororó da panela da vida, e, claro, descansando nos intervalos na velha cadeira de balanço.

Olha, cara, é melhor não filosofar muito e não pensar no que s~~ao favas contadas. Basta deixar as coisas rolarem. E, por favor, não encuque com a velha cadeira de balanço. Ela não tem culpa da vida ser finita.

Vida que segue. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 04/10/2015
Código do texto: T5403825
Classificação de conteúdo: seguro