A sina e a graça

Sofrem até um preconceito inofensivo, sim, certos olhares e a pergunta ‘’mas qual seu emprego meeesmo?’’. Os contadores, executivos e empresários dizem que não são necessários, que são loucos e que estão perdendo justo esse tempo tão precioso em que poderiam estar sentados dentro de um escritório, ganhando dinheiro.

Estes são os artistas: poetas, escritores, músicos, pintores, escultores, dançarinos, fotógrafos, entre outros mil a mais.

Criança que faz bagunça faz arte: mera variação linguística ou não, seria ofensa? A arte é mesmo uma bagunça – mas aquela bagunça deliciosa, onde se quer nadar no meio. Imagine os rádios sem música, os álbuns sem fotos, as telas e os livros em branco... Pra falar a verdade, nem gosto de imaginar.

Queria deixar uma atenção especial aos escritores – coisa que espero conseguir ser, aliás – o dia deles foi dia 25 desse mês que passa.

Neles moram todos misturados: A vilã, a mocinha, a criança, a velha, o policial, o monstro e o delegado, todos atulhados no mesmo cômodo.

Decidem se a vilã vence ou morre, se a mocinha foge ou luta, se a velha é ranzinza ou não, se o policial leva o tiro ou não: conseguem fazer o sangue bombear neles – ou que pare de bombear – apenas com palavras. Talvez por isso pareçam doidos ou confusos, mas veja só, cuidam da própria vida e mais de outras cem!

Decidem se a maré sobe ou desce, se neva ou não, se há uma lua ou centenas delas, se há salvação ou não. São os donos do mundo que pulsa dentro das linhas em que escrevem – e nada pode ser mais gostoso que isso.

Agradeço todos eles, artistas, seja por definição, ofício, alma ou consequência: Que não deixem de se gabar quando puderem!

O mundo pode até girar sem eles, loucos, mas giraria muito mais devagar... Sem cor, sem ritmo e sem passe de dança.