A MONA LISA DE PICASSO
Com os acontecimentos políticos dos últimos meses muito se tem escrito no país. Pelo menos, este momento de purgação que estamos passando tem servido para alguma coisa. São artigos, pontos de vista, editoriais, cartas, crônicas citando siglas que passaram a fazer parte do nosso dia-a-dia. Pela internet, mensagens são passadas e repassadas em um movimento e uma velocidade nunca dantes vistos. Muitas pessoas, no afoite, passam mensagens sem a devida fonte, sem o autor e, pior que isso, com nomes de autores que nunca escreveram nada do que se passa.
Foi exaustivamente repassada nos últimos dias uma mensagem sobre a crise de energia de uma autora não tanto conhecida. Essa mesma mensagem posteriormente foi veiculada com o nome de outro autor bem mais conhecido que, foi dito, desmentiu sua autoria. Assim formou-se a confusão. Não podemos ser gerenciados pelo engano. Devemos clarificar as más informações. Nesse processo de dar nome aos bois recebi mensagens de pessoas que afirmavam que não importava quem escreveu e sim o que estava escrito. É leviano esse procedimento e confunde os rebeldes e as causas. Seria como se atribuíssemos a Picasso a autoria do belo retrato da Mona Lisa e tudo ficasse por isso mesmo - a pintura é uma obra-prima e o autor é famoso - pronto, tudo está resolvido. Não podemos ser regidos pela confusão e não assumir a responsabilidade de dar crédito a quem merece. Por pressa ou incompetência, não podemos omitir o direito que o autor tem sobre suas idéias, sobre suas obras e sobre os seus textos. Não é porque o autor da idéia seja mais conhecido que a idéia será melhor e a fórmula mais eficaz.
Aqui faço um paralelo: os autores de suas ações são os donos e os responsáveis por elas, sejam a escrita de um texto, a criação de uma obra, a violação de um painel, o ato de não ser ético, a conduta ser corrupto ativo ou passivo, o acusar, ou seja que ação for, temos que atribuir a responsabilidade aos seus agentes e estes têm que assumir as conseqüências.
No meio da tormenta de siglas - CPI, MP, PF, CPMF - palavras novas como mensalão, mensalinho além de outros termos nem mais nem menos sofisticados, não podemos deixar escapar a causa da nossa rebeldia. O que o povo reclama e reinvindica é luz, alimento, educação, saúde, habitação, justiça, segurança, fim da corrupção, democracia plena e acima de tudo mãos limpas.