O papel do papel
Essa tal neve, cujo branco parece papel, acalma, acaricia, abraça, amansa. Avistar somente o branco, sentir o sabor umedecido do ar, perceber o calor das interações entre cada floco tem um papel importante. Mas isso não tem nada de novo.
Aqui? Aqui não. Não aqui. Aqui, não há neve, não há novelo, há o novo: aqui, há papel. Sim, aqui. Sim! Papel.
Na mesa do meu escritório tem papel. Aliás, tem tanto papel de escritório, que às vezes me pergunto se realmente estou num bureau, ou se estou num escritório de papel. Estar rodeado de papel é algo viciante. Parece que um só papel não consegue viver só, é preciso de estar acompanhado, é preciso de algo novo. Sigo fielmente essa lógica: Empilho, englobo, aproximo, encorajo, relaciono vários papéis. É como uma dança: um papel desliza sobre o outro, que se aconchega, e torna a fazer tudo de novo. Abraça o outro, se encanta, se conhece, se conversam (sic). Os papéis têm vida. São coisas não insignificantes. Tem livro com nome de papel. As Cidades podem ser de papel. Voltando ao meu escritório de papel, de novo...
Aquela neve de papel em minha volta me comove, me encanta, me envolve. Me sinto realizado com tanto papel a minha volta. A sensação de catarse vem à tona. Incrivelmente, me encontro numa situação em que minha pessoa, eu, faz o papel de um boneco de neve envolta de tanto floco de papel, sendo envolvido por coisas brancas que fazem papel de neve, que fazem papel de Iglu. Papel de Iglu... Like a Iglu de papel.