Doutoire é médico?!?
Era mais um dia comum, salvo pela indispensável visita a um de meus tios, acometido de doença fatal que o levaria alguns dias depois. Fui visitá-lo em Botafogo, na casa de sua filha, onde passamos algumas horas juntamente com um de seus irmãos, médico, recordando-nos das tantas lembranças que compunham nossas vidas.
Chegada a hora de irmos embora, ofereci carona ao outro tio, já que, morando eu na Barra da Tijuca, passaria defronte a sua casa, no Leblon. Descemos juntos e pegamos o primeiro táxi disponível, poucos àquela hora de “rush”.
Inevitavelmente, a conversa verteu para a doença do outro tio, discorrendo sobre os tratamentos que lhe estavam sendo dispensados, sobre novas técnicas e recursos da medicina, o que, pude observar, fascinava o taxista, que não despregava os olhos do espelho retrovisor, ouvindo atentamente tudo que dizíamos.
Chegando ao prédio de meu tio, despedimo-nos e comecei a ler o jornal, procurando fazer com que o tempo passasse mais rápido, em meio ao trânsito congestionado, até ser inquirido pelo taxista, lusitano de sotaque carregado:
- Doutoire é médico?
- Sou! – Menti , sem despregar os olhos do jornal, procurando cortar o assunto.
- Sabe, Doutoire... – continuou ele – tenho 52 anos de idade e procuro cuidar muito de minha saúde. Por trabalhar tantas horas todos os dias, procuro me alimentar bem, dormir regularmente e estou sempre fazendo todos os exames médicos possíveis, não fumo e somente bebo vinho tinto, assim mesmo durante as refeições.
- Você faz muito bem! – asseverei.
- Inclusive, - o homem não parava de falar, por vezes descuidando-se da direção, procurando falar comigo olhando pelo retrovisor – na semana passada, ao sair de casa, dei carona para uma vizinha, uma mulata muito bonita e conversa vai, conversa vem, acabamos no motel...
- Depois de transarmos, enquanto ela tomava banho, eu liguei a televisão para me distrair, quando passou uma propaganda da campanha contra a Aids, dizendo que sempre deveríamos usar camisinha. Fiquei preocupadíssimo, pois eu não a havia usado...Fiquei preocupadíssimo, tão preocupado que deixei a mulher no motel e saí correndo para fazer um exame de sangue.... – e exibiu orgulhoso o resultado do exame, que sacou do porta luvas.
- Viu, deu negativo!?! – sorriu feliz, entregando-me para que o examinasse.
Sem sombra de dúvidas, tratava-se de um hipocondríaco, pensei, retornando à leitura do jornal.
- Doutoire, e qual é a sua especialidade? – retornou ele ao assunto.
- Sou proctologista! – respondi, procurando esconder o sorriso.
- Ah, doutoire, este é o único exame que ainda não fiz. Sabe, eu tenho vergonha, apesar de alguns amigos já terem feito e ter ouvido falar dos problemas da próstata.
- Mas isto não é motivo para que você se envergonhe, já que todos os homens após os cinqüenta anos devem fazê-lo, principalmente os que passam muitas horas sentados, como você, dirigindo seu táxi. Ao final do dia você não sente as nádegas adormecidas? – perguntei.
- Como é que você sabe disso, doutoire? – perguntou ele, curioso.
- É que grande número de meus clientes é justamente de taxistas e motoristas de caminhões. – respondi, procurando tranqüilizá-lo e deixando de lado a leitura do jornal, antevendo a continuidade do diálogo insólito.- Você deve procurar um médico para fazer o exame de toque periodicamente, ao menos uma vez por ano, assim será possível detectar qualquer problema ainda na fase inicial. – concluí.
- Mas, doutoire, e isto não pode me causar problema, como eu “mudar de lado” ? – perguntou ele, visivelmente preocupado.
- Não, em absoluto. Todos os homens devem fazê-lo. – Tranqüilizei-o, demonstrando a maior seriedade.- Inclusive eu sou formado em Londres, uma das mais conceituadas escolas de proctologia do mundo...
O homem a tudo ouvia, visivelmente interessado.
- Certamente você já deve ter visto na televisão a campanha contra o câncer de mama, em que os médicos recomendam que as mulheres devem apalpar os seios, procurando nódulos, cada vez em que tomarem banho, não viu? – perguntei-lhe e a que ele assentiu.
- Na Inglaterra, todos os homens, diariamente, ao tomarem banho, fazem o auto-exame da próstata, além de periodicamente procurarem seus médicos. Aqui no Brasil não o fazemos por machismo, por isto a grande incidência e, quando detectados, às vezes já é tarde para um tratamento.
- É.... sabe que o senhor tem razão, doutoire?.... – assentiu, pensativamente.
Chegáramos a minha casa, ele relutou em receber o valor da corrida, já que lhe propiciara uma consulta gratuitamente e ele partiu. De repente, pára abruptamente, engata marcha-a-ré , aproxima-se e diz:
- Doutoire, estou indo pra casa agora mesmo para fazer meu primeiro exame!....
E partiu, feliz da vida.... E posso lhes garantir que no carnaval era realmente o gajo coberto de purpurinas e paetês que passou em ums carros de destaque da Beija Flor, atirando beijinhos para a multidão que o aplaudia...
Era mais um dia comum, salvo pela indispensável visita a um de meus tios, acometido de doença fatal que o levaria alguns dias depois. Fui visitá-lo em Botafogo, na casa de sua filha, onde passamos algumas horas juntamente com um de seus irmãos, médico, recordando-nos das tantas lembranças que compunham nossas vidas.
Chegada a hora de irmos embora, ofereci carona ao outro tio, já que, morando eu na Barra da Tijuca, passaria defronte a sua casa, no Leblon. Descemos juntos e pegamos o primeiro táxi disponível, poucos àquela hora de “rush”.
Inevitavelmente, a conversa verteu para a doença do outro tio, discorrendo sobre os tratamentos que lhe estavam sendo dispensados, sobre novas técnicas e recursos da medicina, o que, pude observar, fascinava o taxista, que não despregava os olhos do espelho retrovisor, ouvindo atentamente tudo que dizíamos.
Chegando ao prédio de meu tio, despedimo-nos e comecei a ler o jornal, procurando fazer com que o tempo passasse mais rápido, em meio ao trânsito congestionado, até ser inquirido pelo taxista, lusitano de sotaque carregado:
- Doutoire é médico?
- Sou! – Menti , sem despregar os olhos do jornal, procurando cortar o assunto.
- Sabe, Doutoire... – continuou ele – tenho 52 anos de idade e procuro cuidar muito de minha saúde. Por trabalhar tantas horas todos os dias, procuro me alimentar bem, dormir regularmente e estou sempre fazendo todos os exames médicos possíveis, não fumo e somente bebo vinho tinto, assim mesmo durante as refeições.
- Você faz muito bem! – asseverei.
- Inclusive, - o homem não parava de falar, por vezes descuidando-se da direção, procurando falar comigo olhando pelo retrovisor – na semana passada, ao sair de casa, dei carona para uma vizinha, uma mulata muito bonita e conversa vai, conversa vem, acabamos no motel...
- Depois de transarmos, enquanto ela tomava banho, eu liguei a televisão para me distrair, quando passou uma propaganda da campanha contra a Aids, dizendo que sempre deveríamos usar camisinha. Fiquei preocupadíssimo, pois eu não a havia usado...Fiquei preocupadíssimo, tão preocupado que deixei a mulher no motel e saí correndo para fazer um exame de sangue.... – e exibiu orgulhoso o resultado do exame, que sacou do porta luvas.
- Viu, deu negativo!?! – sorriu feliz, entregando-me para que o examinasse.
Sem sombra de dúvidas, tratava-se de um hipocondríaco, pensei, retornando à leitura do jornal.
- Doutoire, e qual é a sua especialidade? – retornou ele ao assunto.
- Sou proctologista! – respondi, procurando esconder o sorriso.
- Ah, doutoire, este é o único exame que ainda não fiz. Sabe, eu tenho vergonha, apesar de alguns amigos já terem feito e ter ouvido falar dos problemas da próstata.
- Mas isto não é motivo para que você se envergonhe, já que todos os homens após os cinqüenta anos devem fazê-lo, principalmente os que passam muitas horas sentados, como você, dirigindo seu táxi. Ao final do dia você não sente as nádegas adormecidas? – perguntei.
- Como é que você sabe disso, doutoire? – perguntou ele, curioso.
- É que grande número de meus clientes é justamente de taxistas e motoristas de caminhões. – respondi, procurando tranqüilizá-lo e deixando de lado a leitura do jornal, antevendo a continuidade do diálogo insólito.- Você deve procurar um médico para fazer o exame de toque periodicamente, ao menos uma vez por ano, assim será possível detectar qualquer problema ainda na fase inicial. – concluí.
- Mas, doutoire, e isto não pode me causar problema, como eu “mudar de lado” ? – perguntou ele, visivelmente preocupado.
- Não, em absoluto. Todos os homens devem fazê-lo. – Tranqüilizei-o, demonstrando a maior seriedade.- Inclusive eu sou formado em Londres, uma das mais conceituadas escolas de proctologia do mundo...
O homem a tudo ouvia, visivelmente interessado.
- Certamente você já deve ter visto na televisão a campanha contra o câncer de mama, em que os médicos recomendam que as mulheres devem apalpar os seios, procurando nódulos, cada vez em que tomarem banho, não viu? – perguntei-lhe e a que ele assentiu.
- Na Inglaterra, todos os homens, diariamente, ao tomarem banho, fazem o auto-exame da próstata, além de periodicamente procurarem seus médicos. Aqui no Brasil não o fazemos por machismo, por isto a grande incidência e, quando detectados, às vezes já é tarde para um tratamento.
- É.... sabe que o senhor tem razão, doutoire?.... – assentiu, pensativamente.
Chegáramos a minha casa, ele relutou em receber o valor da corrida, já que lhe propiciara uma consulta gratuitamente e ele partiu. De repente, pára abruptamente, engata marcha-a-ré , aproxima-se e diz:
- Doutoire, estou indo pra casa agora mesmo para fazer meu primeiro exame!....
E partiu, feliz da vida.... E posso lhes garantir que no carnaval era realmente o gajo coberto de purpurinas e paetês que passou em ums carros de destaque da Beija Flor, atirando beijinhos para a multidão que o aplaudia...