Vulgar

Se é especial, prestamos atenção; ao tornar-se vulgar ( comum, normal), qualquer milagre foge do foco, é imã da distração. Isso se aplica ao amor que sentimos por nossos companheiros, ao céu cheio de estrelas, ao eclipse lunar da lua vermelha e a espiritualidade.

Sim, Temos a tendência de a tudo vulgarizar; tendência de repetirmos atos destrutivos e projetarmos o pior de nós em tudo o que está circulando ao nosso redor.

Com a mesma tendência de exagerarmos na dose do açúcar ou comermos algo por pura gula, passamos de relação em relação em busca de um saciar-se que nunca chega; nunca chega porque não comemos direito ( sim, aqui também vale o duplo sentido), porque não prestamos a devida atenção no ser amado, dai, o amor que era especial ficou vulgarizado...

Com a mesma tendência de corrermos dentro de um parque de diversões para experimentamos todas as atrações que pudermos, para saciar apenas o gosto de adrenalina; colocamos em risco os nossos trabalhos, pomos a perder os nossos processos de aprendizado; dai culpamos os chefes, a crise econômica, a escola ou o professor por nossa incapacidade de estarmos presentes e aproveitarmos ao máximo cada minuto dessa atividade que nos atraiu, no começo, por parecer uma experiência única ... E era...até ser vulgarizada.

Com a mesma gula e pressa e tendência a vulgarizar a experiência, procuramos a nossa espiritualidade, investigamos os caminhos para Deus. O resultado é óbvio e claro! Aquilo que nos dava brilho no olhar, provoca o próximo bocejar nessa nossa eterna busca em saciarmos apenas os nossos desejos. Dai, trocamos de religiões como trocamos de meias; vamos de ritual a ritual, palestra a palestra, culto a culto, com essa fome que nunca se sacia.

Fácil apontar o problema, professor, quero saber as soluções, os " comos" evitar essa vulgarização, esse nosso projetar o pior no nosso melhor, e respondo: sei lá! O que serve para mim, talvez não sirva para você; mas reconhecer que isso acontece, já é um começo. Já é um prestar atenção, já é especial, a minha peleja é não vulgarizar também essa preocupação e para tanto, escrevo esses textos, canto meus cantos e sigo buscando tentar manter esse olhar especial sobre as coisas. As vezes consigo, as vezes nem tanto. Mas estou atento...estou de olhos abertos para permanecer desperto dentro de minhas experiências e não mais dormindo.

Quero estar presente ao beijar o meu amor; quero aprender algo novo e experimentar o sabor do aprendizado fazendo piruetas no meu cérebro; quero dançar embaixo da lua e cantar todas as minhas " aleluias" sem ficar desejando a próxima experiência; quero brincar com os meus filhos sem expectativa de ficar imaginando como eles serão quando a gente crescer...

Tarefa difícil, mas a recompensa é deixarmos de vulgarizar a vida!