A ARTE DE COBRIR O CORPO COM TATUAGENS

Sempre que as pessoas veem minhas tatuagens (tenho 60% do corpo coberto por elas), vem um comentário acompanhado de uma pergunta: “São muito bonitas”, dizem; “dói para fazer?”, é o questionamento. E eu sempre agradeço o elogio e respondo que sim, dói, da mesma forma que dói fazer lipoaspiração, cirurgia plástica e qualquer outro meio estético de aprimoramento.

Esse questionamento sempre me faz pensar que as pessoas não compreendem o verdadeiro significado de tatuar o próprio corpo. Originalmente, as tatuagens serviam como registros corporais de cerimônias de passagem na vida tribal e há registros de tatuagens feitas há mais de três mil e quinhentos anos!

Todavia, existe um aspecto pouco explorado pelos estudiosos do tema e que se refere à autoestima; eu mesmo sou uma testemunha viva desse fato. Antes de cobrir meu corpo com desenhos e imagens, eu tinha uma enorme vergonha de me exibir em público. Mesmo o simples fato de tirar a camiseta entre amigos era algo constrangedor, já que eu não me sentia confiante em exibir minhas formas publicamente.

Depois que tatuei meu corpo, tudo mudou. Hoje, me sinto mais confiante e seguro, deixando que as tatuagens sirvam como uma espécie de “escudo” que me protege da crítica alheia. Perdoem-me aqueles que acham fantasiosas demais minhas alegações, porém, sustento-as integralmente.

Obviamente, ouço elogios, críticas e reprovações de toda ordem, mas, mesmo assim, sinto-me bem com elas ilustrando meu corpo. Ademais, procurei dar a elas uma temática própria, orientada e consciente, sem abusos ou excessos daqueles que simplesmente vão ao estúdio, escolhem uma imagem qualquer e depois de algumas semanas sentem-se entediados com elas.

A tatuagem não pode ser algo entediante ou irritante, pois é definitiva; significa que até seus últimos dias, elas estarão com você, mostrando quem você é, o que pensa e o que sente. Muitas pessoas são contra, alegando que se trata de um modismo que, em breve, cairá no esquecimento. Contudo, o crescimento quase exponencial de pessoas que procuram estúdios de tatuagem para cobrir seus corpos, comprova que não se trata de mero modismo passageiro.

Considero uma forma de tratamento estético que visa operar uma mudança na forma pela qual a pessoa anseia ser vista; não como um marginal, um sujeito esquisito, ou ainda alguém com problemas de comportamento e sociabilidade. Sejam elas discretas, exageradas, coloridas ou cinzas, grandes ou pequenas, as tatuagens vieram para ficar e tornar o indivíduo mais livre para escolher o que fazer com seu corpo.

Recentemente, vi uma reportagem na internet sobre idosos com tatuagens e fiquei espantado com o estado de conservação dos desenhos e o carinho com o qual essas pessoas lidam com seus ornamentos cutâneos. Tenho uma amiga que fez uma linda tatuagem que envolve sua perna direita da palma do pé até a cintura: é um ramo de rosas vermelhas que além de possuir uma beleza própria, concedeu a ela uma aura de sensualidade que, antes, ninguém havia notado.

Ela sentiu-se diferente após o tratamento cutâneo. Mais autoconfiante, segura de si e capaz de tomar iniciativa em quase tudo de sua vida. Mostra-se, orgulhosa, exibindo o desenho com altivez e muita segurança.

E o mais importante veio quando, em uma entrevista de emprego o analista disse que precisava de alguém assertivo e objetivo. Foi quando minha amiga respondeu que ele precisava era de alguém coerente e consistente; coerente de suas atitudes perante suas palavras e consistente em manter firmeza e seu discurso de liderança.

Pronto! Está contratada e feliz em seu trabalho.

Ressalto que minha intenção aqui não é fazer qualquer espécie de apologia, mas apenas demonstrar que não é apenas o “hábito que faz o monge”, mas sim que o monge se faz pelo hábito.

Saudações Fraternais a Todos!