D i s t a n c i a m e n t o

Todo ser humano sente amor por seu torrão natal, exceto, claro, os ingratos e apátridas, os traíras, há até, pasmem, os que se envergonham do lugar onde nasceram.

No filme "Cinema Paradiso", o maior hino ao cinema, há ma cena em que Alfredo, o velho projetista, já cego, aconselha Totó, já rapaz e com uma desilusão amorosa e sem perspetivas na terrinha, a ir embora e só voltar quando se tornasse alguém. Era um conselho duro, mas o velho só queria o bem do jovem. E sair naquele momento. àss vezes - e não raro - o distanciamento é necessário. Mas não é uma ruptura eterna. Fica sempre no âmago de quem sai de sua terra o sentimento telúrico, o amor pela terrinha. Esteja onde estiver, seja quem for, o filho sempre recorda a Mãe Terra. Aquela Miraí cantada na música de Ataulfo Alves, a cidadezinha onde a gente era feliz e não sabia.

Eu sinto isso em dose duapala, exilado aqui em Recife. Sempre penso, todos os dias, em minhas duas pátrias, Arcoverde e Pesqueira. Sei que um dia voltar, como cantou Chico e tom na musica Sabiá.

O distanciamento apura e robustece o amor pela terra. Juro. Aproveito para transcrever um trecho de uma crônica de um escritor pesqueirense, Luis Cristovão dos Santos, que ratifica a cena do filme Cinema Paradiso: "Na verdade ninguém esquece os caminhos da infância, o pequeno país que ficou sepultado na bruma. Todo homem guarda no coração a mensagem que lhe entrou pelos olhos, mal-abertos para os mistérios da vida. O importante, porém, é reconquistar a paisagem perdida. Encontrar, novamente, os velhos caminhos. E por eles andar, de alma alegre, vendo desfilar o rosário das emoções ressuscitadas".

Sou mesmo um matuto do beição. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 28/09/2015
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