Assim ou...nem tanto 11
A podridão dos limpos
Tudo o que integra o nosso conceito de bom, mau ou medíocre se mede por aquilo que somos e que temos enquanto seres sociais. No chamado primeiro mundo, a ordem, a limpeza, a regra e, até, uma estética de rigidez e contenção dobram, permanentemente, os cidadãos. Cada elemento vigia, controla e denuncia o outro. Uns apenas na suavidade aparentemente inócua da crítica privada, outros no apontar público das faltas. O resultado são países prósperos, cidades perfeitas, jardins impecáveis onde nenhum arbusto cresce sem poda ou sem guia. O barulho cessa às dez, o lixo tem normas de separação, embalagem e depósito. Não se fala alto, nunca ninguém rouba o valor do jornal que cada um, religiosamente, deixa antes de escolher o periódico que quer e o resto é também certinho, justo, convencional. Lá há de tudo menos liberdade que não seja, ela também, decidida por todos e bem comportada. Se os japoneses fossem assim quadrados, não haveria ikebana, nem níveis tão elevados de liberdade, estética e civilização. Felizmente que, nesta coisa de culturas, há sempre quem seja rebelde, quem exija ser exceção, quem se afirme filho do patrão ou neto do Presidente, factos que dão azo às massas de saber que alguns não aceitam, não cumprem, não vivem sob qualquer espartilho. Os “maus” fazem com liberdade plena o que querem, incomodam, torcem as leis, vencem sem meias medidas ou morrem abatidos se a farra é muita sem que ninguém estranhe. No meio se quer a virtude, no meio se deseja o equilíbrio e a prudência. Que as pressões tenham válvulas de escape, que haja quem aceite e ame jardins selvagens, festas ruidosas, excessos de todo o tipo. Que nunca o Homem, que Deus fez único e diferente, tenha de ser em tudo igual ao vizinho. Provou-se que nem todos os arrumados são justos ou honestos. Na essência costumam aceitar que mande o tubarão e é muita a sua fome.