Espelho
Um dia você se propõem a fazer uma viagem diferente. Se propõem a fazer uma viagem interior, se conhecer. Inicia se olha no espelho, tenta adentrar as pupilas e alcançar a alma presa na retina. Não consegue.
Após várias tentativas percebe que sua visão (e descrição) dos fatos é distorcida por seus julgamentos e não consegue fazer uma análise imparcial (nem dos outros nem de si). Mesmo assim insiste, se aprofunda e tenta alcançar aquilo que ainda não conhece (ou não quer enxergar).
Acredita piamente que é uma pessoa boa. Paga seus impostas e respeita as leis de trânsito. Recepciona a todos com um sorriso e cumpre seu papel social. Estampa em outdoor uma felicidade que diz viver (mas que na realidade é um sonho de consumo). Aquilo que lhe incomoda, culpa os outros e reclama.
Começa a ter coragem para ir mais fundo e começa a encontrar suas primeiras mazelas. Se assusta e volta. Não quer acreditar no que encontrou (ou não quer aceitar).
Por fim começa a ter os primeiros indícios de que isso lhe prejudica (e aos outros também). E decide retornar. Mas pede ajuda, pois não consegue voltar e encontrar aquilo novamente. Com muita sorte encontra alguém que lhe conhece melhor que você mesmo e lhe faz companhia através do labirinto confuso de sua alma perturbada.
Passa por todas suas qualidades rapidamente, pois já as conhece demasiadamente e se apressa a chegar na sua face obscura. Ela está bem ao centro. Preservada e escondida, mas vez ou outra se manifesta.
Abre uma fina cortina de seda que esconde o que ninguém gostaria de ver (nem mesmo você). Feridas não curadas, deformidades de caráter, arrependimentos e erros cometidos registrados em uma espécie de formulário. Isso apenas para começar.
Continua vasculhando até encontrar promessas não cumpridas, sofrimento causado a quem ama (com consequente afastamento destes), deformidades de personalidade e mais outras podridões.
Encontra seu retrato. Uma imagem distorcida de um ser deformado, rosto desfigurado e aparência bizarra de mostro que não se parece em nada com sua aparência física. Mas é um retrato seu.
Tem desejo de correr, fugir, gritar e sair dali, mas permanece, pois foi o que buscou desde o início.
Ao retornar, entende que é HUMANO. Que possui mazelas e muita coisa precisa ser consertada. Passa a entender que A MAIOR PARCELA de suas dores e infelicidades é CULPA SUA, não dos outros. Passa a compreender que precisa fazer uma faxina.
E no final compreende que TODOS são assim. Possuem um lado bom e um lado TENEBROSO. E que conhecer a si mesmo é doloroso, mas necessário para tentar mudar e ser uma pessoa melhor.
2º JJ 2:7