CRÔNICAS DE TERESINA – A FEITICEIRA DO AMOR (3)

Os estudantes do Liceu Piauiense ficavam eufóricos quando o professor, jornalista e advogado Arimatéia Tito Filho dava aula de Português. A fama dele como intelectual era um mito para nossa geração de adolescentes nos anos 60 do século 20. Ensinava com método atraente, de uma seriedade leve, de maneira que gostaríamos que se prolongasse. Escrevia no antigo quadro negro com uma bonita caligrafia. O único problema é que o mestre não dava aula com frequência regular.

Trabalhava como auxiliar de escritório, com 18 anos, e estudava à noite no Liceu. Queria outra profissão e tive a oportunidade de começar a trabalhar no Jornal O DIA, de propriedade do coronel Otávio Miranda. Abandonei a escola e me dediquei ao jornalismo em tempo integral. O editor era o jornalista Deoclécio Dantas, um dos mais destacados dos meios de comunicação piauienses, escrevendo artigos até hoje, com brilhantes passagens pelo rádio e televisão, além de uma carreira política como deputado e vice-prefeito de Teresina.

Saindo de O DIA, Deoclécio foi substituído pelo jornalista e poeta Pompílio Santos, com o qual Tito Filho manteve uma das polêmicas mais acirradas daquela época. Pompílio Santos fora cassado como vereador de Fortaleza durante o golpe de 64. Sabendo disso, Tito Filho escrevia em sua coluna que Pompílio era comunista e até chegou a analisar um poema , no qual o cearense dizia : “Para o rei tenho um petardo”.

Numa época em que se podia ser jornalista, advogado e escritor, atualmente uma coisa impossível, Tito Filho, após a morte do desembargador Simplício Mendes, tornou-se presidente da Academia Piauiense de Letras. Mas, sofreu muitos obstáculos com os conflitos pessoais com o ex-governador Petrônio Portela e, logo depois, senador e ministro do regime militar.

Lá pelos anos 70, mais ou menos, o político Alberto Silva, de Parnaíba, elegeu-se governador, convidando Tito Filho para secretário de educação. Nesse período, Tito Filho conseguiu uma sede , onde funcionara o Colégio Domingos Jorge Velho, um belo prédio centenário na avenida Miguel Rosa. Na literatura,ele produziu um livro sobre a raiz etimológica das palavras, livros e contos. Organizou e comentou obras de autores do século XIX. Como Zito Batista. Faleceu ainda cedo , aos 68 anos, vítima de enfisema pulmonar, fora um fumante inveterado. A minha geração e a seguinte perderam um líder intelectual do século passado.

samuel filho
Enviado por samuel filho em 26/09/2015
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