ROCK IN RIO E BOLERO
Hoje é o rock, ontem era o bolero. Ritmo cadenciado, melodias inesquecíveis, letras românticas, grandes orquestrações, a gente dançava enlevado, docemente, em total encantamento.
O romantismo dominava os anos 50, no clima do pós-guerra, a música americana teve sua fase influente, representada pelas famosas bandas (Tommy Dorsey, Glenn Miller, Artie Shaw, Harry James, Benny Goodman), os bailes embalavam jovens corações.
Surge o bolero e os grandes intérpretes desse gênero, musica suave, gostosa, sensual:- Lucho Gatica, Nat King Cole, Gregório Barrios, Bienvenito Granda, Roberto Luna, Agostinho dos Santos, Claudia Barroso, Anísio Silva, Altemar Dutra, entre outros, marcam suas presenças.
Composições como “Beguin, the Beguine”, “Besame Mucho”, “Acercate Mas”, “La Barca”, “Frenesi”, “Amapola”, “Just for Tonight”, “Misty”, “Green Fields”, “Aqueles Olhos Verdes”, “Sabra Dios”, “Noche de Ronda”, “Camino Verde”, “Vereda Tropical”, “Ruega por Nosotros” e tantas outras realmente inesquecíveis.
Músicas que permanecerão sempre na lembrança das pessoas, letras que falavam aos corações apaixonados, melodias que tocavam fundo na alma da gente. Não são como as músicas de hoje, os sucessos descartáveis dos “hit parade” da atualidade.
E o bolero, sempre, marcando, caracterizando, definindo. O bolero, tocado, cantado, dançado à meia luz, com o rapaz enlaçando a moça pela cintura, delicadamente, rostos colados, passos estudados, em bela coreografia (as escolas de dança prosperavam). O bolero, sempre o bolero!
Havia os casais que rodopiavam pelo salão, em passos longos, difíceis, e havia também os que dançavam quase parados, juntinhos, num abraço total, sussurrando frases de amor, agarradinhos.
No velho clube do bairro, o Renascença, havia bons dançarinos. O Zezito, o Tãozinho, o Emil, o Arthur “Zoiudo”, entre os exibicionistas, de passos complicados. O Marcos Brina, o Pireco, o Miguelzinho da Olga, o Arthurzinho, o Adilson e o Paulo Sabú, entre os paradinhos.
E eu ali, garoto ainda, ensaiando meus primeiros passos, freqüentando os meus primeiros bailes, deliciando-me com as apresentações das orquestras, vendo e curtindo tudo aquilo no verdor dos meus dezesseis anos ...
Bons tempos aqueles, tempos de bolero!...
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Obs:- Republico hoje crônica minha de 15/11/1988, mudando apenas o título, surfando na onda do “Rock in Rio”.