Porque escrevo
Escrevo porque numa folha de papel o mundo fica maior.
Não escrevo pra pagar o almoço. Escrevo pra alimentar a alma.
Não escrevo por palmas nem reconhecimento.
Palavras já não me dão uma coisa nem outra.
Escrevo linhas tortas na vã esperança de endireitar a alma.
Escrevo para ter a certeza que as certezas não existem.
Escrevo para ter a certeza de que continuarão faltando palavras para descrever as coisas mais simples.
Escrevo para me conhecer. Porque minha mão tem a estranha mania de dizer coisas que eu nem mesmo sei sobre mim mesmo.
Escrevo como quem escreve cartas que o carteiro nunca vai entregar. Como quem coloca recados em garrafas ao mar. Escrevo ao ocaso, para o acaso entregar.
Escrevo pra respirar. Quem sabe um dia inspirar.
Escrevo pra provar que é possível dizer coisas diferentes usando as palavras de sempre.
Escrevo porque sim.
Escrevo porque não.
Escrevo porque habita em mim um ancestral que pintava cavernas.
Escrevo pelo desafio milenar de preencher páginas em branco.
Apenas escrevo a história da minha vida.
Porque quem é capaz de encher uma página jamais será alma vazia.