P R E C E

Mesmo sem ser religioso, embora me considere cristão, admiro muito as preces e orações, principalmente aquelas que tocam profundamente o âmago das pessoas. As preces de antigamente eram, no meu entender, mais profundas, especialmente quando feitas de improviso e que tornavam conhecidas de outras pessoas e junatavam-se às já existentes. Tinham mais fervor.

Li e ouvi várias preces, copiei várias num caderno escolar e, de vez em quando releio-as. Uma delas é a minha preferida. O interessante é que essa prece é de autoria de um árabe anônimo. Talvez por isso, devido ao anonimato, ela tenha para mim ainda maios valor. Vou transcrevê-la para dividi-la com meus raros e queridos leitores:

"SENHOR, sou o mais diminuto grão de areia do deserto fecundado pela chuva das Tuas beneficências. Não mereço que distingas um dia minhas bpas ações. Quantas vezes me satisfazia em remeter-me à Tua indulgência, à Tua misericórdia. Quantas vezes deixei de reverenciar Teu poder, ao contemplar uma hortaliça ou uma floresta, o mar ou uma gota de água, uma aurora ou uma pétala de rosa! Quantas vezes deixei de escutar o que dizias no estgrondo dos trovões, no cântico das fontes, no lamento dos pobres!

"O silêncio da noite era para mim Teu silêncio. E fazia o bem, pensando que Tu me estavas vendo. Fazia o mal, pensando que não me vias. Quando sofria, não me lembrava que outros sofriam mais do que eu. Quando era feliz, considerava-me o artesão de minha felicidade.

"Permiti-me olhar-Te, falar-Te. OPusei discutir sobre o bem, sobre o mal, sobre a vida, sobre a morte. Ousei interpretar Tuas palavras. Ousei levantar a cabeça em meio ao furacão de Tuas revelações.

"SENHOR, que fazes germinar as semnetes! Senhor, que destróis as colheitas! Senhor do sol, das batalhas, do musgo e do mármore! Senhor dos oásis e dos desertos! Senhor, que derrubaste os palácios da Babilônia! Senhor, que provês uma tenda para as nômades! Senhor, que nos destes o dia e a noite, a água e o pão, a esperança e o sono! Senhor da vida, da morte e da ressurreição, prosto-me diante de Tua majestade! Humilho-me diante de Teu poder! Nem sei mais se existo quando pronuncio Teu nome!".

É mesmo uma prece muito bonita. Amém.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 25/09/2015
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