Geniais quando lemos Dostoiévski
É engraçado. Muito engraçado. Engraçadissíssimo. Estou falando com você, cérebro. Sim, meu próprio cérebro.
Cara, estou com você o dia inteiro, você pensa, eu ajo. Agimos juntos. Pensamos juntos, com palavras e sentimentos. Mas, em certas ocasiões, especialmente após um período de vários dias de leituras (onde temos um contato profundo com as palavras), pensamos tão racionalmente com palavras, que não me resta outra coisa a fazer senão vir direto ao computador escrever e registrar tais pensamentos divinos que nós compartilhamos, pensando juntos com homens da estirpe de Dostoiévski, Nietzsche, ou homens não tão geniais, porém que escreveram sobre assuntos e pessoas interessantes, tais como o budismo, tantra, Jesus, Napoleão.
Então, ao chegarmos ao computador, cheios de euforia e ideias e pensamentos, encaramos a página em branco, e ficamos mudos, tu e eu, cérebro maldito.
Isso é engraçado. Engraçadíssimo. Só que não. Pois não estou rindo. Ao contrário, tenho raiva, uma raiva interna, de nós mesmos. Sinto essa raiva muito embora o canto de meus lábios estejam levantados, com aquele sorrisinho estúpido que nós damos quando encaramos alguma idiotíce ou alguma ignorância feita por uma pessoa em nossa frente. Estamos rindo de nós mesmos. Somos nós os ignorantes da vez.
Estávamos nos achando geniais enquanto pensávamos na profundeza da complexidade da humanidade através dos escritos de Dostoiévski. Nos sentimos prontos para vomitar palavras sábias sobre isso. Mas, cá estamos nós, rindo de nossa própria idiotice, mostrando a nossa complexidade, sem conseguir falar da complexidade alheia do homem. Pensávamos que éramos geniais enquanto estávamos sentados no trono (do banheiro), as 01:45 da madrugada, lendo um livro velho da biblioteca pública municipal. Mas ao sentarmos na cadeira que importa, a cadeira que está em frente ao computador, viramos palhaços, e alvos da nossa própria humanidade.
Somos geniais mesmo assim?
Não podemos ter certeza de nada na vida.