A LEITURA SALVA O HOMEM
Tenho observado como pulula, nas redes sociais, o discurso propalado pelas pessoas, no qual assevera que a leitura é redentora, messiânica da pessoa, e, por conseguinte, da nação, do mundo.
Não quero desmentir ou mesmo desmistificar tal discurso moderno, discurso grafocêntrico, pois se assim o quisesse fazer, estaria assinando o meu atestado de filiação de um casal de asnos. No entanto, quero fazer uma ressalva, no que tange a amplitude da verdade imanente ao discurso de que “a leitura salva o homem”.
Esta ressalva é de que essa verdade não é absoluta.
Qualquer pessoa que tenha um mínimo de leitura sabe que existe Leitura e leitura. Refiro-me às duas faces, não de uma mesma leitura, mas sim da expressão leitura, pois de tanto usada acabou sendo, por muitos, banalizada. E a banalização de uma palavra é um grande perigo para uma geração futura.
Indo direto ao ponto.
A leitura, seja ela na forma impressa ou virtual, é como a escolha de uma pessoa amiga. Se for bem feita, levar-nos-á a veredas da justiça e do iluminismo; se não for, levar-nos-á a veredas obscuras. Diga-me o que lê e direi o que pensa. Diga-me o que lê e direi como pensa.
Então essa “estória” de que o importante é ler sem se preocupar com o que se ler, não encontra fundamento em meu modo de pensar sobre o papel da leitura (digo “meu modo de pensar”, porque respeito “o seu modo” de ver o mundo). Enunciar tal discurso é o mesmo que dizer que o que importa é comer sem se preocupar com o que come.
Sabemos que o ato de comer, na maioria das vezes, não implica em morte súbita, mas implica no estado de saúde, no tempo de vida...
Faço a comparação da leitura com a comida, pois creio que “nem só de pão viverá o homem”, mas de toda a palavra que lhe entra pela mente. Creio que o homem é composto pelo corpo físico, composto pelos elementos químicos encontrados no reino mineral; pela mente, que tem seu locus no cérebro, a qual é responsável pela percepção (emoções) e cognição (lógica); e espírito, uma faculdade da mente, a saber, a faculdade espiritual do homem, a qual o capacita a formar e nutrir suas convicções morais e também a discernir entre uma boa ou má escolha. Embora sejam três dimensões, são indivisíveis. Assim creio.
Desta forma, assim como a leitura pode construir uma pessoa, também pode destruí-la. Tudo depende do que se ler. Nesse caso, refiro-me aos independentes, aqueles leitores que não precisam de que ninguém os mande ler. Tudo depende do que se dar para o outro ler. Nesse caso, refiro-me aos dependentes, aqueles leitores em potencial que ainda dependem de outra pessoa que lhe ofereça algo para ler: as crianças, os adolescentes, os jovens.
Alimentar-se de babugem, de restos, de estrumem, de esterco, de lixo não é algo digno de um ser humano; nem mesmo se pode chamar isso de alimento. A ingestão desses substantivos será letal para o desenvolvimento completo de uma pessoa (corpo, mente e espírito). Logo, logo se externarão os sintomas, feridas pelo corpo, queda de cabelos, anemia, envelhecimento precoce exacerbado, morte.
Não quero aqui entrar no mérito (ou demérito, para alguns) da classificação ou denominação de qual a leitura boa ou má.
Mas não temos mais como negar que vivemos no milênio do lixo gráfico, o cyber espaço está aí para comprovar, as livrarias estão ai para corroborar com o que digo. Isso significa dizer que não é por que está escrito, por que está impresso em um belo livro com bela capa, que posso pegar e devorar, achando com isso que estarei me alimentando ou que estarei salvando alguém, muito menos a humanidade.
Lugar de lixo é no lixo. Esta frase já é de lugar comum, ou seja, de uso corriqueiro. No entanto, valho-me dela para alertar a todos os que são responsáveis pela formação de opiniões, que são responsáveis pela educação de nossas crianças, nossos adolescentes, nossos jovens e também de nossos adultos, enfim, a todos quantos lhes foi atribuída a responsabilidade de educadores (e por que não dizer a todos aqueles que se atribuíram essa responsabilidade), não deem lixo como leitura aos seus pupilos.
A fim de terminar essa minha reflexão, termino como o seguinte pensamento que me veio nesse instante: “mas existe o livre arbítrio! ” Esse é um discurso usado por muitos como tergiversação.