Metáfora do Prato e as Relações Humanas
Após ouvir o desabafo de uma aluna sobre o rompimento de uma amizade devido a um fútil bate-boca, disse a ela que as relações humanas são como um prato: se quisermos tê-lo limpo é preciso lavá-lo sempre depois da última refeição. Assim também são as relações entre pessoas nos mais diferentes graus ou situações: se quisermos tê-las saudáveis (limpas) é necessário refazê-las a cada momento, a cada encontro, a cada palavra, a cada gesto, a cada olhar e a cada minuto da nossa vida. Imaginar uma relação totalmente segura pode ser um delírio. Por mais elevado que seja o parentesco com uma pessoa ou profunda seja a intimidade com ela a relação pode desmoronar a qualquer segundo da vida. É como o prato que por mais querido que seja ou mais bonito que pareça, se você descuidar ele cai e se quebra; às vezes se espedaça totalmente que os pedaços que restam não servem mais para nada. No cotidiano da vida também é assim. As pessoas que amamos ou mesmo as estranhas, quando vítimas de um deslize qualquer, podem espedaçar uma amizade de muitos anos, ou acabar com um negócio promissor, destruir a vida amorosa de um casal ou acabar com a relação de admiração entre um pai e um filho. Um simples mal-entendido pode ser um veneno capaz de destruir uma boa relação. Esse “veneno” pode ser um preconceito relacionado à aparência física de uma pessoa, a cultura, a raça, a ideologia, a religião e a posição política. O elemento capaz de manter um prato intacto por muito mais tempo é o cuidado com que lidamos com ele, assim como a não utilização de produtos nocivos que possam contaminá-los e o local onde guardamos. Dessa forma, ele durará muito mais tempo. As relações humanas também durarão muito mais tempo, quando somos capazes de desenvolvê-las com respeito, confiabilidade, ética e consciência de que o outro não é igual a mim, mas é o mesmo que sou: um ser humano capaz de se quebrar. No caso da aluna que me referir no início, se tratava de uma briga com uma amiga por causa de uma caneta. Quanto maior for o nosso orgulho para não ver o outro por dentro, vetando as diferenças e resistindo qualquer movimento para compreendê-lo, maior será a fragilidade das relações humanas. O pensador francês, Levinas, utiliza a palavra alteridade para dizer que nós não conhecemos o outro a partir de nós, mas a partir dele mesmo. Segundo ele, quando vamos ao encontro de uma pessoa precisamos nos despir de qualquer conceito sobre ela e deixarmos nos envolver pela outridade do outro. Em suma, para mantermos um relacionamento, seja em qualquer grau ou situação, é necessário que sejamos capazes de colocar em pratos limpos a sujeira do dia anterior.