PARADOXOS

Tenho estado reflexiva nos últimos dias. Não sei se em razão de estar saboreando as letras de Rubem Alves e seus passeios maravilhosos pela simplicidade da complexidade humana....o que foi que eu disse?...

É, talvez seja isso mesmo, um paradoxo de uma clareza indescritível a nossa alma.

Rubem Alves fala muito sobre a extrema sabedoria do olhar infantil, que, despido da arrogância e dos preconceitos dos adultos, acaba enxergando as coisas com muito mais profundidade e nitidez. E as sentem, e as vivenciam dessa maneira, com tanta sabedoria.

A criança não tem o saudosismo do passado, tampouco a ansiedade pelo futuro. Para elas tudo é presente. Elas estão mergulhadas no agora, no instante chamado já. Por isso, talvez, não sofram tanto. Por isso guardam com mais clareza as coisas que passam ao redor delas. Os olhares, os gestos, os cheiros...

Há pouco, meu grande amigo me convidou para um sarau. O tradicional sarau que reúne pessoas incríveis no mesmo lugar e no mesmo momento. Como ele sabe que não bebo álcool, sugeriu que eu levasse um Baré, o guaraná com sabor de infância...

De fato, minha infância foi regada a Baré, e, quando ele me disse isso, imediatamente correram mil lembranças pela minha mente, todas relacionadas à citada bebida escura e adocicada.

É certo que, em tempos de vida saudável, até o Baré ficou esquecido. Mas achei interessante a expressão “sabor da infância” e, o mais surpreendente, é a constatação do quão fortes e verdadeiras são as lembranças dessa fase da vida, tão marcante e tão eterna em sua efemeridade.

Na vida adulta, tudo parece ser mais complexo. Embora a experiência nos dê uma boa bagagem de ferramentas para compreendermos melhor o mundo à nossa volta, ainda assim, não é uma tarefa tão fácil desvendar o universo das pessoas ao nosso redor. O universo dessas mesmas pessoas que insistem em se vestir da maneira “mais conveniente” para o momento, para o lugar, para o tempo... Vestem-se de profissão, de status, de pretensão, de dubiedade, de anonimato...vestem-se do que os(as) amigos(as) querem que elas se vistam, vestem-se para agradar a hipocrisia da sociedade, vestem-se de orgulho, de vaidade...vestem-se, vestem-se, vestem-se...

Como eu gostaria que todos nós adultos fossemos mais crianças na hora de olhar e sentir o mundo! Todos despidos das vestes que cobrem o que somos e o que, realmente, queremos de nós mesmos, dos outros e de tudo!

Um dia serei tão sábia quanto a criança que já fui!

Érica Cinara Santos
Enviado por Érica Cinara Santos em 22/09/2015
Reeditado em 13/12/2017
Código do texto: T5390896
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