Beleza e Sedução

 Belvedere Bruno

 

     Cedo teve consciência  de seu poder de sedução.  Olhares eram  dirigidos a ela constantemente.    Curtia  brincadeiras, principalmente a  de olhar com  olhos semicerrados.   Convite mudo, pensavam.

Andava com um  sensual balancear dos quadris,  e as mãos  passeavam  pelos cabelos, enrolando-os no alto  da cabeça,  para  que logo caíssem  sobre os  ombros como uma cascata.  Já tinha a sensualidade declarada através daquela  voz rouca, que mais  se acentuava  quando  queria exuberância  nas suas aparições.   Seios fartos, sempre soltos,  eram  verdadeiro convite à contemplação.  Tinha mania de   mordiscar os lábios, e  umedecia-os com a língua , como se pedisse beijos.

     

      Sair sem rumo pelas ruas , exercer  seu fascínio, sentir seu domínio... Corpo,  puro aroma de  almíscar!

 

      O tempo voa...Um   dia, acorda se perguntando o que, de fato, buscara na vida .  Até quando teria sua beleza e o  poder de sedução? Reflete sobre a voracidade do tempo, percebendo o  vazio de sua existência. Olha-se no espelho, vê  as finas rugas desenhadas em torno dos olhos, e os lábios, já  sem o antigo  frescor.

 

      Sente, então, o sabor do sal misturado ao aroma de almíscar, que vai se desvanecendo, enquanto  todos os  olhos  do mundo parecem  zombar dessa estranha sensação que envolve  seu ser.   A vida perdera o colorido,  transformando-se num filme em preto e branco.

 

     Caminhando  pelas ruas,   busca  outros rumos, evitando rotas tempestuosas.  Quem sabe,  ainda não encontraria  enredos que, mais do que um  novo epílogo, dessem novas profundidades para a sua história?

 

 Uma coisa era certa:  olhando sob esse ângulo, a vida se tornava muito mais sedutora!