Sr. Genésio
Senhor Genésio, 68 anos, operado da próstata. Era o paciente que ocupava o leito 111-3, encostado na parede e debaixo da janela, na Clínica cirúrgica. Estava sempre de mau humor, poucas vezes respondeu ao meu sonoro Bom dia!!!!! Suas respostas eram sempre monossilábicas. Respondia somente o que eu lhe perguntava. Bom eu seguia minha rotina, brincando com os outros pacientes, puxando a cadeira, me sentando ao lado dos leitos e batendo sempre um papinho.com um e com outro.
Na manhã do terceiro dia, ao me aproximar do leito do Sr. Genésio ele me disse:
_Eu queria muito conversar com você.
Puxei logo a cadeirinha e ele disse:
_Aqui não. A senhora deve de ter uma sala, ne? Eu quero falar ‘pessoarmente’.
Combinei com ele que assim que terminasse de pegar as notícias e visitar os pacientes, pediria ao técnico de enfermagem que o levasse até minha sala. Ao conversar com o técnico ele me disse que este era o paciente mais rebelde, que não queria caminhar e não tomava líquido para limpar a urina, como havia pedido seu médico.
Ele chegou caminhando em minha sala, com a sonda e aquela bolsa coletora de urina. Sentou-se, o enfermeiro saiu e ele me pediu para fechar a porta.
_ E então, Sr Genésio, o que o Sr. está mandando? Perguntei-lhe para quebrar o gelo e facilitar as coisas. Ele então começou:
_Bom, minha fia, vejo que você é casada e pode até ser minha fia, mas é que eu estou numa tristeza danada e queria conversar com alguém. Você é muito alegre com todo mundo e por isso escolhi falar com você.
_Pois estou aqui, prontinha pra lhe ouvir, Seu Genésio. Pode colocar essa tristeza pra fora!
_ É que eu sou casado com uma dona dez anos mais nova que eu e o meu médico me disse que eu não vou mais poder fazer... Ce sabe o quê, ne?
Senti meu rosto corando, disfarcei e nem em sonho poderia imaginar que a tal conversa seria aquela. Então, assim meio constrangida, disse:
_ Bom, seu médico lhe disse que o Sr. não vai mais conseguir fazer sexo com sua esposa, não é isso?
_Sim. E ela é nova, ainda muito fogosa e não sei o que vai ser de mim. Minha tristeza é muito grande.
_ Bom Sr. Genésio, ela estava com o Sr quando o médico lhe disse isso? Perguntei.
_Sim, mas a gente num conversou sobre isso. Não é fácil um homem não ser mais homem.
Enquanto ele falava, eu pensava: “Meu Deus, onde fui me meter. Tire-me dessa fria!”
_Pois bem, Sr Genésio o senhor quis vir conversar comigo, viu que sou uma mulher casada e o que vou falar com o senhor é a mais pura verdade, que vocês homens não sabem. Nós mulheres não precisamos sempre do sexo, como vocês homens precisam. A gente gosta de carinho, de amor, de beijos, de abraços, de ver televisão de mãos dadas, de andar abraçados ou de braços dados na rua. O senhor faz assim com sua esposa?
_ Eu não!
_Pois para nós, mulheres o sexo é só o finalmente disso tudo. E pra gente ter prazer, não é preciso ter a penetração, como vocês homens dizem. Deus tira os dentes e abre a goela, Seu Genésio e se o Sr. quiser manter seu casamento vai ter de aprender a amar sua esposa de outras formas, de outras maneiras. O sr. algum dia já lhe deu flores?
_Nunca! Não sou dado a essas frescuras de muié.
_Pois agora terá de aprender a carinhar ela de outras formas. Hoje tem visita, ela vem lhe ver?
_ Sim. Hoje ela vem.
_Pois então eu vou comprar um vaso de flor bem bonito pro senhor entregar pra ela na hora da visita. Compro na hora do almoço e volto mais cedo, antes da visita começar. Ah, Sr. Genésio, tem tanto jeito de fazer uma mulher se sentir uma verdadeira rainha sem ser só na cama e o sr. vai ter de aprender tudo isso, conversando com ela, deixando o machismo de lado e descobrindo como ela quer ser feliz ao seu lado. Isto aí que o Sr diz que não poderá usar mais para nós, é o último motivo de nossa felicidade. Vamos ver como serão as coisas na visita.
Ele voltou sozinho para seu quarto sem ajuda de ninguém. Desci, comprei um belo vaso de crisântemos vermelhos, numa embalagem muito linda, também vermelha, peguei a notinha, porque receberia dele o valor pago,fiz um lanche e voltei ao hospital. Entreguei-lhe o vaso. Não fiquei no corredor naquele dia, no momento da visita, fui para a maternidade. Dei um tempinho quando terminou o horário de visita e fui ao quarto dele. E não é que o próprio estava de pé, segurando sua bolsa e que nem um peru abrindo roda de alegria. Chamei-o no canto e perguntei:
_Como foi a visita?
_Minha Fia, ela ficou muito das ‘sastifeita’ pois me falou que sempre teve inveja das muié das novelas que ganhavam aquelas flores dos maridos. Ficou tão boba com o vaso que nem sabia como é que carregava o danado. Eu dei um abraço nela. E ela ta toda zelosa comigo. Só pergunta que dia eu vou embora.
Fiquei feliz com a alegria dele. Cheguei bem pertinho de seu ouvido, para que os outros pacientes não ouvissem e disse-lhe:
_Olha aqui, seu Genésio, o Sr. mesmo me falou que eu podia ser sua filha e eu lhe respeito muito, mas vou falar uma última coisinha que é um ditado:”Enquanto um homem tiver dedo e língua, não existirá mulher infeliz”.
Sua gargalhada valeu meu dia!
_Você é nova, mas sabe das coisas, minha fia!
No dia seguinte, após minha rotina de visita aos leitos, deparei-me com o cirurgião e urologista na porta da minha sala. Entrou e já foi logo me perguntando:
_Iza, você conversou com o Sr, Genésio ontem?
Nuuuuuu! Fui ao outro mundo e voltei. Pensei: “agora estou ferrada”!
_Sim, Dr.Ele pediu para conversar comigo.
_E o que você disse a ele?
Contei tudo que havíamos conversado e o que eu tinha feito na hora da visita.
Ele então me perguntou:
_E que negócio é este de dedo e língua?
Vermelha feito um pimentão, expliquei o que dissera a ele e ressaltei que lhe disse isso baixinho.
Ele riu, abanou a cabeça e me disse:
_De hoje em diante você faz parte da minha equipe. Quando precisar de você, mando lhe chamar para ter outras conversas como está. Ah, ele já vai ter alta amanhã.