O Mestre era Padre, mas o poeta...
 
...o Poeta era monarquista e ao ver seu mundo ruir ele usou a pena contra a República. Não poupou nem o herói construído ideologicamente – Tiradentes – pelo positivismo brasileiro, cuja finalidade, a figura histórica, era justificar a separação do Estado, Igreja, ordem filosófica e suposto o progresso científico.
 
O padre é o mestre Correia de Almeida que se fez na realidade do Império Brasileiro. E como tal ajudou, através do sacerdócio e do magistério que exercia formar e perpetuar a mentalidade barbacenense e o atavismo cultural de a comunidade ser vista como “nobre e leal”, ainda que no século 20 já se vivesse a plenitude republicana – esta influência se percebe também estendida ao século presente.
 
Como professor de latim e francês era contrário às reformas gramaticais do português uma vez que um povo e seu governo se fazem pela língua régia estabelecida. Como os gramáticos que querem a permanência, contrário aos linguistas que optam pela evolução, ele queria a manutenção de toda a estrutura fosse língua pura ou fosse política – Monarquia.  E ele próprio, em seus versos, se afirma...
 

 
De um milhão de poetas brasileiros
hoje sou, se não há qualquer engano,
o decano (de tais gramatiqueiros,
que, por sábios, não dizem o ‘decano’.) p160
 
E o professor de latim sabia mais do que ninguém que manter a língua como os gramáticos gostam é querer manter o “estatus” histórico sem mudanças políticas, sociais e econômicas. A gramática trabalha a favor da elite, que quer a manutenção da ordem, enquanto a linguística, a favor das mudanças estruturais da sociedade.
 
O agora forçado a ser o cidadão José Joaquim Correia de Almeida sonhava em voltar a ser o súdito de Vossa Majestade. Ele proclama-se “sebastianista” por esperar a volta da monarquia:
 
 

 
Regozijam-se alguns sebastianistas
fantasiando a próxima chegada
do dia em que se diga restaurada
a monarquia sob as suas vistas!p.140
 
Sua esperança era tamanha que propunha que a família Andrada de Barbacena se tornasse a linhagem real e se fizessem monarcas do Brasil – será que é por isto que tais elementos têm mania de permanecer na política local e geral?  Não é à toa que os barbacenenses ainda não perderam a reverência e a referência a tais perpetuando-os em seus cargos e funções públicas.
 

 
O doutor Martim Francisco,
consanguíneo e puro Andrada,
por ver que tudo isto é cisco,
profeticamente brada:
Restauração é impossível,
a monarquia é infalível.
 
Inteira razão eu lhe acho,
e prestando-lhe meu voto,
pigmeu, que sou, não me agacho,
tendo ele em mim um devoto,
que, colocado a seu lado,
inda espera ser prelado.
 
A dinastia se escolheu
só de raça brasileira,
e o Brasil, que não se encolha,
se houve tensão estrangeira.
No país há gente nobre,
Que por modéstia se encobre.
 
Quem importa que lá na Europa,
hoje príncipe ou princesa,
se o nativismo galopa
entre nós, de perna tesa?
Até se apaga a lembrança
de tal casa de Bragança.p. 164

 
 
 
Que fosse esquecida a Casa de Bragança no Brasil na onda do nativismo,  que aqui na ocasião havia,  e que se restabelecesse a monarquia com uma Casa Nativa, os Andradas.
 
Delírios de um padre e professor que viu seu tempo histórico morrer. Mas, como é da natureza humana, queria que ele, seu tempo,  se perpetuasse e para isto ensinou, rezou nas suas missas e poetizou em suas sátiras.
 

O padre mestre Correia de Almeida produziu o atavismo de Barbacena que tem complexo de nobreza e mania de perpetuar dinastias nos cargos políticos. A pessoa é o produto dos livros lidos, dos professores e líderes que ensinam e da escola que formou: recalques psicológicos e lavagens cerebrais.
 

 
*Texto produzido com base no livro, cujas páginas são citadas:

FONSECA, L. M. A. (Org.) . Padre Correia de Almeida - Notícias do Padre Correia de Almeida nos Jornais de Barbacena - Período 1881-1905. Centro Gráfico e Editora Ltda, 2003.


Leonardo Lisbôa
Barbacena, 18/09/2015


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Leonardo Lisbôa
Enviado por Leonardo Lisbôa em 19/09/2015
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