Uma pérola valiosa
Ela chegou suavemente e saiu mansamente. Dentro desse precioso tempo, vivemos mais de vinte anos. Nessa travessia, foi, para mim, o braço direito, o braço esquerdo, o porto seguro. Eu podia sair para o trabalho, com tranquilidade, e retornar com a certeza de encontrá-la com a responsabilidade muito maior que sua estatura.
Não ocupou espaço, não levantou a voz, não pediu nada, apenas estava ali, sempre pronta para atender os apelos de cada um e de todos, ao mesmo tempo. Hoje sei o tamanho da gratidão que sinto e avalio a tranquilidade que tinha por viver com uma pessoa de confiança, de plantão, com quem eu podia contar sempre.
Certa vez, estava na sala de aula e me senti atraída por um por um psiu vindo da porta. Um gesto discreto me surpreendeu: um dedinho apontado para meus pés. Eu estava com sapatos desaparelhados, um bege e outro marrom. Consegui me ajeitar discretamente e minha cuidadosa Dalva se afastou silenciosamente, ela e Nêmora, filha querida que a acompanhava com carinho.
Várias vezes, bem cedinho, eu a vi calçando meias nos meninos que ainda dormiam. Dizia que era para adiantar, para eles se aprontarem mais depressa. Não sei como ela deu conta de tantos uniformes, em tempo certo, no lugar certo.
Assim, o tempo passou e foi inevitável correr como ele. A complexidade da vida exigiu muita atenção e, por isso, lamento não ter falado com ela, nem gritado , para todo mundo ouvir, que, sem sua colaboração, seria muito difícil enfrentar os desafios da vida. Tenho por ela imensa gratidão.