O Inferno e o Céu não são os Outros.
Deus, qual o plano de vida para mim, meus familiares e toda esta geração que em nosso tempo habita o Globo?
Qual a meta que temos que cumprir para nos tornamos mais humanos?
Qual o sentido que norteia Mark Zuckerberg na desenvoltura desta sua fantástica rede de intercâmbios e intrigas?
Levarei quase tudo na ironia porque de nada me adiantaria sair por aí chorando ou metralhando o sistema, ou ficarei sólido e indiferente feito rocha em meu projeto que ainda não defini?
A grande maioria lança a culpa em um pouco de tudo, uma parcela atira nos governos, outra nas sociedades e leis falhas e obsoletas, outras em famílias e grupos de amigos, no cão do vizinho, no porteiro, na síndica carcomida, no sindicato dos empregadores e trabalhadores, nos cartorários autômatos, enfermeiros cansados, banqueiros, bancários, sistemas e formas de governo, trânsito caótico e tórrido, etc, etc, etc, mas raros assentam suas consciências ao travesseiro e se julgam a si mesmos como causadores das suas próprias dores e consequências.
Raros assumem suas falhas perante terceiros e a si mesmos quando trancafiados em suas consciências inseguras, reconhecendo seus erros, tentando ao menos corrigi-los e seguir adiante, evitando tropeçar novamente naquela velha e mesma quina da calçada da esquina quando sai todos os dias às sete em ponto, às pressas para o trabalho e se esquece que ontem e anteontem e semana passada também bateu o bico do sapato naquele mesmo local, naquela mesma quina de esquina, e mesmo assim pragueja mais uma vez lançando impropérios a Deus e ao Mundo por ser humano e falível, sendo que na realidade gostaria de ser diferente, de ser presidente, igual ao parente rico, ao feliz que se diz e sorri ostentando seus ornamentos, ao super-herói do cinema, que não aquele que se esquece das coisas mais simples e perde o sono com problemas insanáveis como a vida, seu transcorrer e a morte inevitável, e que a culpa não é e nunca foi sua, que não lhe deram oportunidades de nada, que sua vida é um fiasco, que o fisco o ameaça, a Serasa o cadastra, o banco lhe nega crédito, seu aumento não sai, sua cabeça não é boa para os estudos e as lembranças de dias felizes, que seus projetos todos falharam...
Deus, do outro lado do desconhecido, cansado das lamurias humanas, mas pertinaz como perfeito que É, fica calado observando a cabeça quente de cada um desses doentes preocupados, coçando a grande barba branca atemporal e transmitindo-lhes energeticamente que as coisas são assim mesmo, que tudo faz parte do projeto e que a culpa não vem de fora, que toda mudança, toda transformação, toda transmigração e evolução a que a raça até agora alcançara adveio de mentes e corpos cansados e sofridos, que no decorrer de seus tempos vitais também caíram, praguejaram e, obstinadamente, de algum jeito, continuaram, e continuar é necessário, por mais absurdo que seja.
O Inferno e o céu não são os outros! Sartre se enganava também.