Eu sou Prolixa!
A aula começou, o professor chegou, fez a chamada e começou a entregar a prova que tínhamos feito e que valia 10 pontos. Chamou meu nome, fui até a mesa, peguei minha prova e lá estava minha nota 6,8, escrita com caneta azul. Mas a nota não me assustou, pois, bem acima do cabeçalho estava escrito em letras vermelhas bem grandes:
“Você é prolixa!”
Honestamente, eu não sabia o significado da palavra prolixa e entendi a mesma como um elogio. Fiquei tão feliz com o que eu acreditava ser um elogio que nem me dei conta da minha nota. Que se dane a nota, afinal de contas eu sou prolixa! Durante toda aula, sempre que meus olhos se encontravam com os olhos do mestre eu lhe sorria timidamente, como que agradecendo. Procurei, olhando de soslaio para as provas de minhas colegas e ninguém mais havia recebido aquele elogio, só eu!
Êxtase total!
Guardei minha prova e quando cheguei em casa procurei no dicionário o significado daquela palavra que tinha feito de minha manhã de aula a melhor do ano até então. E lá encontrei:
“adj. Que se expressa, falando ou escrevendo, através do uso excessivo de palavras; que não consegue resumir uma ideia ou encurtar um pensamento: jornalista prolixo.
Que se perde em explicações supérfluas: orador prolixo.
Que se caracteriza como entediante; que se estende demoradamente: discurso de formatura prolixo.”
Raiva, decepção, tristeza, nenhuma palavra é capaz de traduzir o que senti naquela hora. Falei mal daquele homem na sala da minha casa com toda minha raiva, usei todos os palavrões que eu sabia e olha que a lista é bem grande:
_Prolixa é a sua mãe!
_Você é um preguiçoso, não quer ter o trabalho de ler e corrigir um texto então me chama de prolixa. Gosta de boa vida, provinha pequena, né? Pois comigo não rola! Vai ter de ler e corrigir muito.
Na prova seguinte não deixei por menos. Ele lecionava Teoria do Serviço Social e também valendo 10 pontos nos pediu que realizássemos um Estudo de Caso. Escrevi 6 folhas, frente e verso e no final, também com uma caneta vermelha deixei pra ele o seguinte recadinho:
“Sou prolixa mesmo e não tenho culpa de gostar tanto das palavras e de seu uso ser gratuito. Se pagássemos para usar palavras talvez eu até economizasse! Eu gosto de palavras, Professor, e sinto muito se lhe dou tanto trabalho.”
Minha nota foi 8,0!