A primeira semana

Kizie Pontes

25/08/2015

“Antes do homem o medo, antes do medo o amor, antes do amor a dúvida. Pois nem deus sabe quem criou, e o que prevalece em nós.” O Teatro Mágico – A primeira semana.

Chovia. A água caía contínua, mas não torrencial. A rua estava deserta, apenas um carro ou outro passava por ali levantando gotículas de água com as rodas no asfalto. Só havia os dois visivelmente andando na calçada. Ela com o lado esquerdo encharcado enquanto o direito estava protegido pelo abraço dele. Ela com o cabelo vermelho manchando a blusa branca, ele passando a mão no cabelo e espalhando mais água ao redor. Os passos eram dados juntos, nem se percebia o quanto havia demorado para que sincronizasse.

Quando a chuva começou a apertar eles se abrigaram numa marquise de um bar esperando que passasse. Eles se recostaram na parede, ainda abraçados.

– Eu te amo, sabia? – ele disse.

Ela sorriu e encostou a cabeça no ombro dele. Quem dera ,ela pudesse ou sequer soubesse como responder.

* * *

Eles estavam no corredor da faculdade numa rodinha de amigos. Ele sorria de um modo especial com aquilo que o deixava feliz. Mas aquele momento era especial por que ela parecia apoiar o que todos julgavam. Sem mais. Ela não conhecia, mas apoiava por acreditar nele.

– Eu te amo, sabia? – as palavras saltaram da boca dele. E num sorriso sem graça ele beijou a testa dela como se assim ele pudesse reaver as palavras para dentro da boca, torcendo para que ninguém tivesse de fato percebido suas palavras.

A única reação que ela teve foi pensar que aquilo bem que podia ser verdade. Sem saber que aquelas foram as palavras mais sinceras que ele havia dito a ela

* * *

Os olhos dele brilharam de felicidade, daquele jeito especial, que só acontecia em relação às paixões dele. A diferença era que naquele momento brilhavam por uma paixão dela. Ela nunca havia recebido uma resposta tão feliz pelos sonhos dela. Sem pretensão. Apenas felicidade pelo outro. Sinceridade no olhar.

Deus, tinha algo muito errado com ela. Ou algo muito certo. Não conseguia decidir.

Droga, não havia mais volta. Ela estava muito ferrada.

Kizie Pontes
Enviado por Kizie Pontes em 17/09/2015
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