Divergência Zero

Numa das suas músicas de início de carreira, "Sem Fantasia", Chico Buarque cantou num verso: "Eu quero te mostrar/ As marcas que ganhei/ Nas lutas contra o rei/ Nas discussões com Deus". Lembro que na época essa expressão "nas discussões com Deus" foi alvo da indignação de alguns santinhos do pau ôco. Para eles o genial compositor teria sido muito ousado. Era o resquício da inquisição botando as unhas de fora. Era o embrião da censura da ditadura.

Mas o que desejo enfocar aqui é que as divergências são positivas. O questionamento é algo bom e saudável, até em relação à fé, penso que pode robustecê-la. Fé sem questionamento é fé cega. Fanatismo. Por outro lado há que se encarar como normal certas divergências entre pais e filhos, esposo e esposa, alunos e mestres e o escambal. As divergências são a marca registrada da democracia. Indiscutivelmente.

Por isso fiquei indignado quando nos jornais de Pernambuco li que um dos nossos políticos afirmara excitado, frnético e num frisson bajulatório que tinha divergência zero com o prefeito do Recife. É pura bajulação. Ninguém tem divergência zero com ninguém. Volto a Chico e sua discussões com Deus. Ora, se é possível até divergir de algo com Deus, avalie com o prefeito do Recife.

Divergência zero, uma ova. Isso é capachice. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 16/09/2015
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