Esperança de um último apelo

Moça, desde que você partiu, tudo está no mesmo lugar e o vazio da casa tem sido a minha companhia. A sala, o quarto, o banheiro, e a cozinha estão exatamente da mesma forma que você deixou ao me deixar. Com exceção dos móveis que, por falta de limpeza, foram cobertos por uma considerável camada de poeira. No quarto, a cama não está arrumada, pois ainda posso sentir seu cheiro nos lençóis e travesseiros. As fotografias espalhadas nas paredes e na estante da sala ainda me fazem sentir a sua presença viva, embora você esteja distante. A geladeira está cheia porque não tive fome por esses dias, já que a sua saudade é o que me alimenta e, ao mesmo tempo, cada vez mais, me consome.

Ando pelos cantos da casa a procurar qualquer lembrança sua, além daquelas que estão dentro de mim, marcadas em meu corpo e na minha mente; seus beijos, seu cheiro, seu olhar, o seu toque, sua voz, as suas curvas, o seu sexo...Ah! ainda vivem em mim. Não sei se isso de me apegar a lembranças na tentativa de amenizar a sua ausência me faz bem ou mal.Talvez eu devesse jogar tudo fora, qualquer vestígio que lembre você, fazer uma limpeza na casa, mas, de que adiantaria, se você ainda estaria viva dentro de mim?

A verdade é que esses dias têm sido muito difíceis e custam tanto a passar! Sua partida me abriu buracos que eu não sei se um dia vou conseguir preencher com outro abraço, talvez não haja alguém com o mesmo encaixe que você tem. Eu necessito me desapegar de toda lembrança sua que insista em ficar dentro de mim e ao meu redor. Vou tentar sair de casa, correr na praça, ir ao cinema, qualquer programa que me tire desse dilema - de não saber lidar com partidas. Mas, minha memória me acusa que todas essas coisas eu fazia com você, daí, logo percebo que sozinho não terá graça. Meus amigos já me chamaram pra beber, disseram eles que só assim vou curar a minha agonia. Não custa nada tentar, embora eu saiba que a bebida e as noitadas só vão me afundar, e, no final, eu sempre vou querer você.

Moça, te faço um apelo, talvez o último, pois quando eu te vi sair por aquela porta, mesmo você dizendo que não teria volta, eu pude me ver dentro dos seus olhos e você dizendo o contrário. Venha preencher o vazio que ficou aberto em mim a quando da sua partida e só você pode ocupar. Moça, por favor, volta!

Via Poética
Enviado por Via Poética em 16/09/2015
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