O adestrador e os animais

O adestrador e os animais

Numa jaula, presos por vontade própria, animais convivem e se suportam em um jogo hipócrita, no qual, o adestrador (ator principal da fábula) comanda a pequena sociedade – falida - com o chicote do medo e do modelo fixo.

As regras são explicitas; o controle deve ser perene.

Na grade, a convivência deve ser harmoniosa, segundo a eufonia do adestrador, e nada deve romper o contrato assinado por apenas uma parte.

Cada bicho em seu canto; para cada bicho o olhar.

E o adestrador deblatera:

- Hienas não podem sorrir; atrapalham a seriedade. Corta essa juba, leão! Tire esse topete! Lhamas, engulam o seu muco e permaneçam dóceis. Cães, não ladrem; gatos, não miem; sapos, não coaxem; pássaros, não gorjeiem.

Silêncio!!!!

... e o adestrador entra e desorganiza a ordem! Ergue a sua ordem e progride de acordo com o seus objetivos.

O cavalo dá coice, mas é controlado.

A cobra pica, mas já não tem veneno.

O lobo ataca, mas, logo, acovarda-se.

O chicote domestica e o macaco faz chacota da desgraça de todos.

O adestrador busca cercear o macaco. Ele se vê no macaco!

A comida é a diversão – tempo hábil para saborear o prato pronto.

A brincadeira é controlada e os risos devem ser dados com cautela.

O banho de sol não chega nem a molhar os pelos dos animais; tempo controlado.

De volta à jaula, devem responder com a servidão que está sendo imposta; contrariar pode levar ao matadouro e sua carne será comida pelas presas –caçadoras.

É preciso criar um rebanho, dessa maneira, é mais fácil controlar.

Depois de chicotadas, abre-se a jaula e os bichos saem de fininho, com o rabo entre as pernas e sem as presas de outrora. O bom adestrador cumpre seu papel e reconstrói a natureza.

Moral: Em selva que há adestrador, animal obedece sem refutar!

Mário Paternostro