DIA DE AULA

Sabe... Eu estava sentada na cadeira, apoiada em minha carteira

escolar, prestes a anotar minha tarefa quando, por instantes, me refugiei em meio aos pensamentos. Veio à mente a aula de Arte, a turma cantando junto à professora tocando violão.

Encontrava-me na margem do rio da música, olhando aquele barco indo embora com a moça magoada pela ingratidão do rapaz. Então olhei para ele e disse:

- Às vezes é preciso parar e olhar para longe, para podermos enxergar o que está perto de nós!

E ele, meio melancólico, acrescentou:

- O que faz parte de nós! Magoei a mim mesmo!

Então lhe dei um abraço confortador e voltei-me, já de costas, a seguir em busca de retorno.

Enquanto caminhava, pensei na frase dita pelo moço conservando a imagem do barco sumindo na curva do rio! Fez-me lembrar do navio que vi à noite, da beira da praia, a ancorar no porto, tendo por guia a luz do farol.

Como pôde o primeiro marinheiro confiar tanto a ponto de arriscar sua vida à bordo de uma engenhoca daquelas em tão grande e inconstante chão de águas!?

Lembrei-me também da aula de História que a professora contou sobre os portugueses que chegaram, aqui, no Brasil à bordo de grandes naus, e também dos meus pais dizendo que meus bisavós vieram, de navio, da Itália para cá. Meus bisavós confiaram na engenhoca!

Ainda permanecia a imagem da praia em minha cabeça quando escutei o apito do navio que seguia seu rumo; era o sino da escola avisando que era hora de ir embora!

Rapidamente, olhei para a professora que sorriu para mim e disse:

- Distraída, heim? Não esqueça a tarefa, pra amanhã, certo?

Acenei com a cabeça, terminei o registro, e saí da sala.

Quando avistei, de longe... No portão da escola, estava lá alguém especial a me esperar. Eu me via em meio a um mar de meninos e meninas que estudavam no mesmo horário que eu! Um mar de meninos e meninas, e eu no meio deles como um barco navegando para um porto seguro onde poderia atracar e baixar a âncora.

Ao passar pelo portão, lhe dei um abraço, um beijo e disse apenas:

- Sabia, Mãe, que você é o meu farol?

Elenize

16/08/2006

Izenetti
Enviado por Izenetti em 14/09/2015
Reeditado em 25/07/2016
Código do texto: T5382275
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.