Bons Genes
Hoje, acomodado em seu assento elevatório no banco de trás do carro, meu filho Arthur, antes da partida de nosso habitual percurso de trânsito e em sua inerente pureza dos cinco anos de idade, me chama e pergunta: “— Papai, sabe por que nós não sentimos a Terra girando?”
Eu, fito-o admirado, e sem tempo hábil para responder sou novamente surpreendido ao perceber que se tratava de uma pergunta retórica: “— É por conta da gravidade! Ela nos prende no chão e nos deixa pesados. Na Lua ela é menor, por isso lá nós somos mais leves.”
Só consigo sorrir e beijá-lo! Ele me olha sem entender muito bem minha risada boboca, e com um sorriso no cantinho da boca, percebendo meu orgulho me dá o abraço mais apertado que consegue.
No decorrer do dia vejo-o brincando com os primos, correndo, pulando, rindo, e chagando pra mim no final da tarde pra dizer: “— Hoje o dia é todo meu, não é papai?”. Eu meneio a cabeça em afirmativo, olhando no doce acastanhado de seus grandes olhinhos e no negro de seus cílios enormes. Ele novamente dispara.
Observando-o a meia distância, começo a recordar o dia em que o peguei nos braços pela primeira vez, do som do chorinho na maternidade, do primeiro banho, de como ele dormia deitado sobre meu peito, das primeiras palavras, dos primeiros passos, do primeiro dentinho apontando, do primeiro corte de cabelo, da primeira vez que colocou os pés na areia da praia […] Eu estava lá!
Era eu quem estava com ele quando caiu o seu primeiro dentinho de leite. Fui eu que tirei com alegria as rodinhas da bicicleta e segurei a cela até ele ter segurança de pedalar sozinho e equilibrado. Foi comigo que ele conseguiu atravessar a pernadas a piscina sem ajuda pela primeira vez. É do meu lado que ele deita na calçada de casa nas noites abertas, olhando pra cima para observar as estrelas e escolher as nossas constelações favoritas. É ele quem faz minha vida ter significado.
Como é bom ver “Meio Você” com bons genes, crescendo em tamanho e entendimento em meio a tanto caos e tanto desacerto. E como quero estar sempre ao seu lado, em todos os momentos, sejam bons, ou nem tão bons assim.
Quero que ele conte sempre comigo e aguardo ansioso o que virá: o primeiro barbear, a primeira namorada, o vestibular, carteira de motorista, o primeiro veículo […] meus netos.
Chorei como menino escrevendo agora. De orgulho e de amor. Acho que se ele me visse nesse momento ia pensar que eu quem sou a criança!