Sorvete de baunilha com cobertura de merda

Tudo acaba, não é mesmo? As pessoas foram feitas, criadas para terem um fim. A projeção perfeita do criador se limita a morrer. Atlanta caiu, Hitler caiu, Posseidon se foi e todo deus um dia será lenda. O que nos resta senão nos conformarmos com o pouco de vida e seu sopro cativante? Pessoas entram e saem de nosso caminho, chegam cheias de empolgação e promessas, mas se vão com a mesma velocidade, um pedaço que fica na lembrança, às vezes, nem isso. Pessoas acabam, reis são depostos e crianças se tornam adultas, nem todas. O espelho é um contador de espaço. Ele mostra que aos vinte e poucos anos seus cabelos brancos estão espetados na cabeça e que as rugas não tardam em chegar. Seus colegas próximos dizem que após treze anos sem tirar sangue, você deveria mesmo visitar um cardiologista, tirar esse sangue, cuidar da saúde, você não está mais ficando jovem. Isso, velho com um quarto de século. Vamos lá pessoas, prefiro morrer agora, com a glória da minha ignorância, que com o medo das picadas de agulhas. Todos que nos rodeiam caminham para o mesmo lugar, seja para subir ao céu, ou para alcançar o inferno. Todo mundo vai ser esquecido, poucos tem a sorte de ser eternamente lembrados, e mesmo assim, há quem nunca ouviu falar do Rei Sol, ou de Machado de Assis. Não, não… a altura dos pôsteres é para a minoria, para nós, resta tentar ser feliz, ou se contentar com a infelicidade de uma vida medíocre, permeada de dúvidas sobre se deve ou não comer mais um pedaço de bolo, se a comida congelada vai aumentar a gordura do seu coração, se a filha da vizinha está dando mole pro seu pau que não sobe há dez anos. Não, não, a nós, podres humanos resta nos contentarmos com a certeza de que a morte é sábia, e parar de chorar pela morte dos inocentes, pois, de que adianta? Cedo ou tarde, a morte chega para todos, e se veio antes, talvez matamos previamente um possível assassino, ou um salvador. Complicado demais para se pensar. E agora, como uma maçã ou um chocolate?