Favela Bobeou Vira Esqueletoira Esqueleto
Valdemiro Mendonça.
Estava experimentando meu Chevrolet sonic novo, com dois dias de uso, tinha saído da Av. Amazonas e principal corredor de chegada à Belo Horizonte para quem rodou pela Fernão Dias, “rodovia onde fui testar o possante vermelho hidramático e presente dos meus filhos, já que: minha aposentadoria não compraria nem a roda do carro lindo e perfeito nos mínimos detalhes desde o som original e bancos de couro ao suave toque nos botões de opção para cambiar o carro sem retirar as mãos do volante esportivo e cheio de comandos já aproveitando a tecnologia de formula um”.
Não estava cansado, pois, dirigir este carro é como andar de avião sem ser piloto. Passei pela praça da estação, e peguei a linha verde depois de atravessar o complexo da lagoinha em direção ao meu lugar de pouso, resolvi esticar o passeio e entrei na primeira rua à esquerda depois do viaduto que era uma subida e sem guardar o nome das ruas continuei entrando ora à esquerda ora a direita até que as casas começaram a empobrecer nos seus aspectos tornando-se residências de quem tem menos poder aquisitivo.
Numa destas ruas, o nome era “Piranhaba Rosa” mais tarde fui saber que era uma rua só de torcedores atleticanos e que tinham sua bandeira preta e branca com uma faixa no centro com as sete cores do arco-íris. De repente uma mulher saltou na frente do veículo e naturalmente eu pensei “devido ao nome da rua”, é assalto, mas não era, a mulher relativamente jovem e bem vestida e semblante desesperado, quando abri a porta do carrão, e surgi eu: homem maduro, mais para forte do que para gordo, óculos escuros, discretos, pois, tinham Black blue que salientavam as cores dos meus maravilhosos olhos azuis, calçado com tênis olímpicos terra ar ultima geração, camiseta e bermuda IL e os cabelos brancos cobertos por uma boina Pierre Cardin também último tipo, deu um grito dizendo: é o James Bond, tudo que eu preciso neste instante.
Sorri meio inibido, como dizer àquela linda dama que eu era apenas um simples aposentado do INSS curtindo um pouco a graça de ter trazido ao mundo um casal de filhos maravilhosos que gostavam de ver seu velho pai como um senhor bem sucedido e feliz? Disse apenas: algum problema minha jovem senhora? Ela desfilou um rosário de problemas e entre eles, o rapto do seu filho por marginais que estavam cobrando divida de drogas do filho... Lamentei as condições degradantes da nossa juventude na cidade grande, mas não me furtei ao dever que me chamava, abri meus celular Nokia último lançamento e disquei o meu número secreto de ligação com meu sobrinho da ABIN, no mesmo instante surgiu no inicio da rua dezenas de viaturas policiais com as sirenes ligadas e espantando os ladrões que estavam nas redondezas.
Os homens chegaram fazendo perguntas e sendo satisfeitos pela jovem dama que lhes dava detalhes do acontecido. Um gentil sargento com uma porção de granadas penduradas no cinto cheio de balas, e com um capacete que não me deixavam ver-lhe às feições me inquiriu sobre o que estava eu, um riquinho, fazendo naquela zona perigosa e emendando: certamente sustentando esta corja de traficantes vagabundos tentando comprar drogas. Eu no alto da minha decência respondi à altura: alto lá senhor policial, sou um aposentado hoje, mas já dei a minha cota de contribuição a este país, tirei minha carteirinha de aposentado e enfiei na cara do sargento, que mascou fumo tentando se desculpar, pois, a tal carteirinha é o terror para quem comete esta gafe, quem à porta, tem o poder nas mãos e no Brasil, ela significa uma vida de honestidade, uma segurança de pessoa estabilizada e que vive com dignidade sem que lhe falte nada, um aposentado no Brasil é um potentado e representante da dignidade de quem serve ao país durante sua vida útil. Snif, snif, e sniiif.
O oficial voltou sua atenção para a linda dama e eu também fiquei prestando atenção em qual seria a reação dos policiais. Como sempre me surpreendi com o desprendimento dos nossos defensores... Ai, ai, ai. Os repórteres, estes profissionais e baluartes da moral, já no local gravavam tudo para a TV e os valentes chefes da disciplina estavam explicando que não subiriam o morro, pois, não iriam arriscar a vida de seus valorosos agentes por um bostinha, drogado e que se morresse não faria falta nenhuma à sociedade. Confesso que fiquei triste ao ver à decepção estampada no rosto da jovem e bela mãe, mas não podia ficar apenas sentindo pena da jovem mulher, meu espírito aventureiro agiu por conta própria e eu disse: tudo bem, eu vou subir o morro e negociar com os traficantes... My God! Toda a mídia focou-se em mim, modestamente eu expliquei que iria fazer isto pela jovem e preocupada mãe que foi a quem primeiro pediu ajuda. A reação foi à inesperada... É um babaca que quer aparecer, deixem-no subir, vai virar peneira lá em cima. Ouvi um coronel dizer sem se dirigir a mim e olhando para as câmeras: O senhor, é responsável por sua vida entendeu? Eu nem respondi, perguntei a dama qual era o nome do trombadinha e ela disse; (Ronardim Gaucho), na verdade é só Ronardim, mas a gente colocou o nome por causa do Ronardim gaucho do galo.
Eu disse tá, e fui... O povo acenava e pude ouvir algumas palavras carinhosas dos que ficaram: Vai se fud... Filho da pu... “estes eram policiais”, ô velho burro... “estes eram jornalistas”, vai virar peneira... “os moradores local” e... Vai fundo meu herói, “esta era a dama mãe que agora tinha colocado uma blusa que deixava a barriga de fora e uma saia longa que deixava ver as sandálias havaianas por baixo, além de estar usando um batom (bokaloka) que fazia da dama... Uma dama”... Ai meu Deus!
Fui subindo e as ruas se transformando em becos até que de repente não havia mais barracos, era um caminho estreito, ensimesmado por pedras negras e decoradas com ossos humanos e caveiras ainda com dentes que até daria um ar romântico se fosse sexta feira treze à meia note de um dia do haloyn. Numa curva do caminho, surge um Senhor da cor da noite... “Romântico isto”, e abre os braços como se dissesse: por aqui você não passa! Sem me assustar, perguntei: algum problema meu amigo? E ele, socê pagá, num tem pobrema ninhum. Pagar? Meu amigo: estou aqui numa missão humanitária e se o senhor insistir nesta besteira de querer cobrar pedágio pela passagem: vai ter de se ver com o Zé fuinha que é meu compadre. Claro que eu chutei, mas pelo visto o gigante conhecia alguém cujo nome era parecido ou quem sabe, por sorte: “existia?” Simplesmente saiu do caminho e o ouvi dizer: Discurpi cidadão. Segui em frente, passei bem perto de uma tenda grande de lona esticada sobre bambus onde uma sanfona, um, cavaquinho e um violão davam a melodia para várias pessoas dançando.
Resolvi parar e tomar informação, quando abri a boca, eu senti alguma coisa me cutucando as costas e adivinhei ser um três oitão, e uma voz com bafo de cachaça dizendo, tu é meganha cumpadi? Eu disse não compadre, só estou aqui para negociar com quem segurou um moleque de treze anos e trouxe pra cá, pode verificar que nem tenho armas. O safado começou a me revistar e passou a mão na minha bunda e eu falei: pó pará meu! Ele riu, é o oficio cumpadi, está limpo, pode falar. Estou procurando um moleque que se chama Ronardinho Gaucho e foi sequestrado por algum compadre aqui do morro. Quando eu falei, um moleque dos seus treze anos quase quatorze se apresentou e disse: Ô velho babaca, eu não fui sequestrado, vim por que eu quis, tenho uma namorada, esta aqui, e aí notei agarrada ao moleque uma escurinha muito linda que lhe beijava a nuca e dizia, vai não nego, fica aqui com a martinha. Aí eu tive de fazer valer minha autoridade de agente social oferecido. Olhe aqui moleque, você tem duas opções, volte comigo agora, ou eu volto sozinho e queimo todos os seu filmes de Henri Porter. O garoto ponderou, olhou para os olhos da sua amada e disse: farei o sacrifício, se quiser me acompanhar, eu vou mudar de vida e você vai viver comigo. Ela chorou, despediu-se dos seus amantes antigos e disse: Também farei o sacrifício, adeus amores mio. Eu como falo e entendo bem o espanhol e o iataliano, entendi sua despedida, mas em nome do amor... Fiquei silente.
Após receber os cumprimentos de gratidão dos residentes do bairro por evitar que a policia continuasse pensando ser culpa dos traficantes o sumiço do moleque e desta vez sem colorede no caminho, desci o morro levando o garoto e a tira colo uma nora para a jovem senhora. Entreguei o filhote à dama das alturas e recusando uma oferta de lábios sequiosos querendo me beijar, parti; Sentei-me ao volante do possante, desci a serra e fui descansar nos braços da minha amada que apenas perguntou... Lavou nosso carro o fiat 147 para eu levar nossa netas à escola amanhã? Pois é! Fuiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii.
Trovador.