Croniconto: a copa da galera
O fundo do buzão fervilhante como nunca. Parecia um programa esportivo de rádio, em que seus locutores eram vários pedreiros, pintores, eletricistas e diversos artesãos da construção civil que teciam comentários variados sobre os jogos da Copa, a Copa do Brasil: “Vô torcer pra Argentina, Messi vai arrebentar hoje!” “Cê é doido, num é brasileiro não é? Como é que pode isso? Vô é queimar essa sua camisa veia desse time.” “Mas cês viu? Bom mesmo é aquele cara lá da França, Bem... Benzemá. O cara tá fazendo gol pa porra!” “Oxxxx, aquele cara é veio moss, queta cum isso.” “Num é veio não, cê é doido.” “E aquele Robben lá da Holanda, vixi, o cara é liso, ninguém pega ele na corrida, cê viu?” “É, se o Brasil pegá ele tá lascado!” E os comentários iam e vinham em diversas direções, por diversos campos, diversas posições, ora criticando uns, ora elogiando outros, mas parece que todos estavam ligados na telinha nos últimos dias, que haviam decorado nomes de jogadores estrangeiros, falas famosas e emblemáticas de jornalistas, narradores e comentaristas de futebol da mídia televisionada. Era o eco das transmissões reverberando naquele fundo de ônibus rumo aos trabalhos pesados, sofridos, porém, dignos daqueles verdadeiros heróis que não faziam gols memoráveis, que não tinham seus nomes eternizados atrás de camisas oficias da seleção vendidas por preços exorbitantes, que não seriam chamados de “Heróis da Pátria” se viessem a conquistar o caneco daquele ano. Mesmo assim, esse era o assunto daquela manhã. Esse era o fio condutor que ajudava o tempo passar, durante o trajeto entre suas casas e seus empregos.
Enquanto isso, o buzão seguia o seu rumo normalmente...