Vizinhos e suas historinhas
O carro de mudanças chegou bem cedo e parou na porta da casa ao lado. Os espaços eram estreitos entre as casas do condomínio de classe média num bairro do Rio de Janeiro.
_ Espero que não seja gente ranzinza. – comenta Marcos, imaginando os donos pela mobília que entrava empacotada.
Chega um tempo depois num carro cor de cereja que parecia ter saído naquela hora da fábrica. O casal era novo, provavelmente recém-casado.
_ Bom dia. Sou Marcos seu vizinho. – acena com a mão para eles.
_ Bom dia. – fala o homem agarrando o braço da mulher.
_ Sou Glória e esse é meu marido Juarez. – retribui a mulher com um sorriso logo apagado pela sacudida de braço do marido.
_ Se precisarem de alguma coisa é só chamar, sei que mudança dá o maior estresse, também mudei faz pouco tempo.
Marcos é um trintão, solteiro, evangélico que trabalha com informática.
_ Você foi grosseiro com o vizinho, ele só se mostrou prestativo.
_ Se soubesse que ia ter um vizinho assim compraria casa do outro lado.
_ Assim como Juarez?
_ Cheio de amabilidades, espreitando carne nova.
_ Vai ver que estava de bobeira na porta da casa.
_ Domingo de manhã? Isso é hora das pessoas estarem dormindo ou mudando.
_ Você prometeu tudo novo, comportamento novo também, sem ciúmes.
_ Sou cuidadoso, não gosto de me sentir ameaçado.
_ Por favor, dá um tempo!
Glória ainda estuda e Juarez é gerente numa loja de ferramentas. Sempre quando volta pra casa Juarez sabatina sua esposa procurando alguma falha para justificar seu ciúme. Marcos por sua vez, procurou evitar intimidades com a vizinha para não criar tumulto, seu companheiro é o papagaio Xérox, um imitador muito esperto. Enquanto conserta computadores ele ouve rádio evangélica e canta músicas de louvor e o papagaio o imita.
Um dia o computador do casal apresentou um defeito e Glória foi pedir socorro na casa de Marcos porque precisava terminar um trabalho da faculdade para aquele mesmo dia.
_ Posso instalar novos programas pra vocês, vai facilitar sua vida. Ah! Vou reunir um grupo de amigos no sábado e gostaria muito que viessem.
_ Como ficou bom esse computador? Você não disse que deu defeito? – ironiza o marido de Glória assim que chega a casa.
_ Juarez o nosso vizinho Marcos consertou e também nos convidou pra uma reunião na casa dele no final de semana.
_ Esse cara vai me dar problema.
_ Pare com seus ciúmes infundados.
_ Não se atreva mulher...
Sábado Juarez resolve voltar mais cedo pra casa. Não abriu a garagem como de costume, queria pegar o flagrante de intimidade entre sua mulher e o vizinho.
_ Ó Glória! Ó Gloria. – gritava na casa ao lado.
Juarez pega a arma que carregava e atira... No papagaio Xérox. O som do estampido fez Glória e Marcos correr, cada um saindo de sua própria casa. Juarez com cara de imbecil olhava o papagaio dilacerado, morto.
_ Ele gritava “Glória” era assim que ele chamava você? – berra Juarez.
_ Ele dizia “Oh Glória!” glorificava a Deus, esse é um costume nosso, os evangélicos. – fala Marcos.
_ A reunião de hoje na casa dele é dos amigos crentes. Francamente Juarez!