Dom Pereira: centum annos natus
Até os livros profanos e o Patrimônio Histórico revelam que a Igreja de Deus é peregrina. O peregrino Manuel Pereira da Costa nasceu em 1915 , nas terras da sua futura Diocese, entre os rochedos de Pocinhos, logo depois do Papa Pio X criar (1914) a Diocese de Cajazeiras e elevar a da Paraíba à dignidade de Arquidiocese. O apóstolo tudo largou, como canta Caetano: "Sem lenço e sem documento (...) Nada no bolso ou nas mãos (...)", a caminhar a um "Reino que não é deste mundo" (J 18, 16).
Embora que a Igreja parecesse um reino, Dom Manuel Pereira usava esse recurso para chegar às ovelhas nas mais longínquas distâncias... Iniciou como auxiliar do velho Dom Moisés. Antes era reitor do Seminário, escola que comemora seus 121 anos de ensino, formando homens éticos e cultos que sublimam à intelectualidade paraibana. Dom Pereira relembra meu amigo professor de Filosofia da UFPB , padre Luís Gonzaga Fernandes, depois Bispo Campina Grande, como Dom Pereira, em cuja Catedral jaz ao lado de Dom Manuel Pereira da Costa. Esses dois nutriam amizade que se manifestava numa Igreja triste ou alegre: Choravam nas horas de tristeza, sorriam nos dias de alegria...
Conheci Dom Manuel, aos quase onze anos de idade, no Seminário Arquidiocesano da Paraíba, em 1958. Nunca tinha visto um bispo... Homem vestido de túnica vermelha, sobrepeliz com rendas e bordados dando transparência ao rubro da veste inferior, sapatos cor de vinho, cruz peitoral e anel em ouro, e para culminar um solidéu com a cor da sua veste. Era Dom Manuel Pereira dissimulando sua simplicidade... Viveu seus últimos anos de vida no Asilo de Mendicidade, onde cuidava da Biblioteca pela compensação de conviver com os livros e de servir aos outros... Humilde, prestativo, morreu aos seus 91 anos, no dia 26 de julho de 2006, às 23 horas, em João Pessoa. Dom Pereira fez parte de uma instituição que também errou... Mas, ele nos explicou a natureza teândrica da Igreja: Podendo errar enquanto humana, sempre acertando por ser divina...