Eleições e grampos
Foi tocante. Quem conhece a Tininha, a mulher perfeita, sabe do que estou falando, ou talvez não, pois às vezes até eu me surpreendo com as ações desta mulher, que quando passa os postes se curvam em reverencia. Ela está, como sempre, na academia, onde ás vezes tira folga para dormir e fazer compras, quando a TV, ninguém sabe como nem porque, está num canal de notícias. Todo mundo sabe que a Tininha não acompanha noticiário, segundo ela, uma frivolidade, nem me pergunte de onde ela tirou esta palavra. Mas neste dia, noticiavam uma descoberta no TSE, coisa que ela particularmente não se importa em saber o que significa, de alguns grampos telefônicos, para monitorarem os passos dos ministros.
Ficou pasma. Até parou com seus exercícios, coisa rara na vida desta mulher, que não revela há quantos anos faz academia, para não entregar a idade, inconfessável até mesmo sob tortura, mas fontes seguras dizem que á flagraram fazendo flexões e abdominais ainda na maternidade. Esta mulher, que até as mulheres param para olhá-la na rua, é casada com o Carlos, ou Cacá, como ela e alguns amigos o chamam. Ele a flagra em casa, reunindo grampos de cabelo, de papel, entre outros assemelhados, como prendedores de roupa, passadores, simplesmente tudo que lembrasse grampo.
- Mas o que é isso, Tina?
Ele só a chamava assim em momentos de surpresa, que não eram poucos, ou em momentos de fúria.
- São grampos que colocam nas casas das pessoas para monitorarem os votos das pessoas.
Mais uma surpresa, a mulher que ele conhecia não falava desta forma. Tentou explicar que não tinha nada a ver um grampo com outro, mas a Tininha volta à velha forma, mais de meia-hora não são suficientes para explicar.
- Mas, se minhas amigas socialites, descobrem que eu vou votar no Lula.
- Grande coisa, cada um vota em quer achar melhor.
- Gente grã-fina, vota na direita.
- Pois PT, hoje em dia é de direita. Eu vou votar na Heloisa.
- Ficou louco? Aquela mulher não sabe se vestir, está sempre com aquele modelinho brega, calça jeans e blusinha branca, parece que não tem outra roupa. E além do mais, o que minhas amigas da alta sociedade vão dizer: “Que tenho um marido que vota numa defensora de pobres, sem terra e outras gentinhas mais”. Nem pense nisso. Vai ver, magrela daquele jeito, nunca deve ter freqüentado uma academia.
- E porque não vota no Alckmin?
- Nem brinca. Votar naquele chuchu de nariz? Nem morta. Aquele cabelo dele é muito mal cortado. O Lula não, tem aquele corte másculo, aquela barba dele é um charme.
Houve um fúnebre silêncio sobre os dois, pois eram casados há anos, e Ele não sabia disso. Para não criar mais atritos ele foi trabalhar. Ficaram duas semanas sem se falarem, e Tininha colocou fora tudo que lembrasse grampos. Vai saber.