Pequenas histórias 105
Caminhava despercebido
Caminhava despercebido dos movimentos enfurnado no tinha e no que precisava fazer. Dobrou a esquina, olhou para um lado depois para outro e atravessou a rua. No exato momento em que pisou a calçada de pedras uniformes, ouviu uma freada seguida, o que lhe parecia ser carros se chocando. Sem virar a cabeça para ver o que acontecera, teve a nítida noção do acidente. Parou, parou não porque estivesse interessado em ver, mas por inconsciente movimento não controlável. Olhou para a direção do acontecimento e reparou que, por um momento exíguo a vida ficou em suspenso, parada indagando o que houve. Curiosos dirigiram-se ao local mais para ver o circo pegar fogo do que para socorrer caso houvesse alguma vitima. Ele parou, ficou por uns tempos indagando o que poderia ser. Mas não se mexeu alimentando sua curiosidade. Além do que para que saborear-se com a desgraça alheia. Aconteceu, aconteceu o que se pode fazer para reverter o acontecido. Pensando assim, voltou a caminhar envolvido em seus movimentos.
Sem poder explicar, e se pedissem não saberia como explicar, viu nisso tudo, mesmo que tivesse vitima ou não, a vida em movimento, a vida se manifestando, a vida bela que ele sempre louvou que ele sempre impingiu em seus poemas e prosas. Sim, ali estava à vida, o pulsar que muitos não sentiam que olhavam pelo lado negativo do acontecimento. Não viam naquele acidente uma fração de beleza. Tudo bem, acidente seja ele qual for, é desagradável, é... Não conseguiu lembrar-se de uma palavra que justificasse o que sentia. Pois ele mesmo, às vezes, se sentia impotente diante de fatos que ocorriam descontroladamente. Era como se tirassem um pedaço de sua carne, de seu ser instigante e observador. Sentia-se pequeno diante dos fatos. O que não deixava de glorificar a vida, de glorificar o ser humano, mesmo que ele seja desprezível, egoísta e individualista.
pastorelli