O MENTECAPTO
A vida o transformou num imbecil, tendo em vista que vivia sempre pelas ruas, espiando a vida alheia. Era tido como um louco, mentecapto, o perfeito idiota, pelos amigos e inimigos. Esquecido por todos, sempre habitava em lugares ermos, a espera de um novo dia, que iria brotar atrás da igrejinha, onde o sol despontava pertinho da pequena cruz de ferro. Nesta vida já desempenhara os mais diversos papeis, num palco sujo de lembranças desconexas: padeiro, carpinteiro, pedreiro, sapateiro,...teve fome, chorou a luz de velas. Hoje nada tinha, nem mesmo dignidade... Apenas algumas moedas no bolso da velha calça boca de sino, surrada da labuta diária (espreitar a vida alheia).
Era o fim para o nosso mentecapto, à sombra do frondoso ipê, sentado num banquinho da praça rodoviária, observando os transeuntes que desciam do ônibus, tomando os mais variados rumos. Contou novamente as moedas e comprou uma passagem para a cidade mais próxima. De carona atingiria outras cidades e talvez o mundo. De tão desgraçado, mesmo na despedida, a turba gritava aos quatro ventos:
- Lá vai, o idiota! O cretino já vai cedo! Palmas pro retardado!
Já sentado no ônibus, olhou pela janela, se despediu das pessoas com um olhar triste e solitário, contemplando pela última vez a cidade em que nascera, crescera e em que se tornara o mentecapto. Olhou para o seu lado, onde uma moça jovem se sentara com um bebê de uns dois meses no colo. Pensou, na criança, na infância e no homem solitário, na vida, nas pessoas, nas suas experiências como imbecil.
Naquele momento, a jovem mamãe, coloca os seios para fora da blusa branca e começa a amamentar a criança e o mentecapto, se valendo de sua profissão, com olhos estatelados e boquiabertos, escuta da jovem moça:
- Nunca viu? Quer mamar também moço?
- Não, não ... chupei MANGA VERDE. respondeu o imbecil, que não entendia o motivo da crueldade e chacotas da vida...