Velhas árvores
Os avós são como as velhas árvores. Possuem uma fase, um nome, uma história a ser contada. Habitam um mundo em que o que vale é a relação que os liga à família, num espaço invisível e denso.
Em seu universo, a interioridade faz a diferença e as pessoas se definem por suas esperanças. Seus gestos são acompanhados de palavras que lhes orientam as mãos, os olhos, os passos. A maturidade tem mais a ver com a experiência que tiveram e com o que aprenderam com a vida do que com os aniversários celebrados.
O lar é o santuário que eles amam. Não é um lugar com alicerce e teto, é muito mais que isso. É uma certa estrutura que lhes é muito cara, pois nela não há perigo de serem o que são. Quando estão com a família, estão em casa. O vínculo que os une a ela não é apenas de sangue, mas de respeito e de prazer mútuo.
O que lhes traz alegria à vida não é serem queridos e admirados. Sua
felicidade está no fato de eles mesmos poderem amar e admirar tudo o que lhes pareça especial e belo em seu céu: a grande família, os filhos,
netos, bisnetos, genros, noras, irmãos, sobrinhos. Às vezes, eles se esquecem de alguma coisa, porém há coisas que devem ser esquecidas.
Fazem parte de uma geração que não aceita o imperativo: sejam velhos ou qualquer outro rótulo que sempre contestam. São atores de uma história que conseguiu transformar comportamentos, que legitimou novas formas de família e ampliou a possibilidade de ser mãe, pai, avô, avó.
Há certas horas em que querem a mão no ombro, um abraço apertado, a companhia adorada de toda as suas joias vivas e mais do que preciosas, para fortalecer - lhes o ânimo e a alegria de viver. Sabem que há somente um teste para verificar se sua missão está cumprida: se estão vivos é porque ainda lhes falta terminá-la.