Estou tentando largar o cigarro

Revirando as coisas que considerei importantes guardar, mas que neste momento não precisam mais ocupar espaço, encontrei minhas declarações de começo de ano. Não são de um ano qualquer...são de um período reformulador da minha vida. Primeiro item da lista: vou largar o cigarro. Não sou um fumante qualquer, sou o fumante...mas não fumo Marola, nem participo de pegas. Iniciei muito cedo nesta arte, se assim posso considerar...o cigarro preenchia meu tempo ocioso ou quando necessitava pensar. Costumava pensar muito...meus primeiros pensamentos concretos alinharam-se às meninas. Era apaixonado pela ruivinha da terceira carteira;estudamos juntos todo o ensino fundamental. Ela nunca me deu bola. A princípio pensei que fosse meu jeito de moleque, então fui me aprumando. Passava mais horas no chuveiro e desta vez, esfregava o corpo com sabonete. O espelho virou meu espelho mágico...dava um tapa no cabelo, jogava a franja pra um lado...meu lado mais bonito. Todo esforço era inútil porque a ruiva nem percebia que eu existia. Com o passar do tempo, outros pensamentos ocuparam minha caixa pensante. Me ocupei com carros, gatinhas, meu primeiro beijo, minha primeira transa. O cigarro continuou sendo meu parceiro...se estava triste, fumava. Alegre, fumava. Pensativo, fumava. O vício era um alento em horas aflitivas...mas este hábito me conduziu a um tratamento de saúde. Fiquei aparvalhado. Confesso que chorei. Minha vida passou num "flash". Muito desorientado, abri minhas gavetas e vasculhei-as em busca de vestígios do meu vício...encontrei vários...de algumas marcas bem conhecidas...abri um saco de lixo e joguei todos...com lágrimas nos olhos me despedi de um por um, apurando meu olfato.Olhei uma vez mais para o cartão de saúde, me reconectei com o retorno da consulta, a conta a pagar e decidi nunca mais comprar cigarros de chocolate.