Assim...ou nem tanto 8

Migração

Por sermos da Terra e não estarmos em Marte todos nós nos deveríamos sentir em casa em qualquer parte do globo. Na verdade, há muito tempo que isso não é assim. Só com distância nos sentimos iguais, parecidos, irmãos. Teoricamente somos parte da humanidade, todos nos reconhecemos como homens, herdeiros do quinhão coletivo que nos cabe deste planeta azul de incontestável beleza quando, do espaço, não podemos ver ou sentir-lhe os defeitos, as mazelas, as diferenças, o cheiro podre das feridas, o derramar do sangue, a guerra, a perseguição e a morte. A aproximação mostra-nos de raça diversa, de educação distinta, crendo ou negando Deus, acreditando que, afinal, uns têm direito a tudo e outros a nada. Na terra comum dividida, nos pedaços de uns não se aceitam os outros. Para que pudesse ser assim foi necessário fazer acertos nos direitos, nos conceitos de equilíbrio, legalidade, justiça. São ricos os do petróleo, são ricos os que vendem as armas, são poderosos todos os que, não importa como, acedem ao dinheiro de todos e o tornam apenas seu. Eles poluem, destroem, roubam, aviltam, enganam. Eles, os sem moral, vencem. Para isso mentem, espiam, enganam ou manipulam muitas vezes em nome de princípios falsamente sagrados e patrióticos. E a norma cumpre-se em agressão e mudança, em migração ou morte. Ninguém sabe o resultado final. Ninguém pode impedir, travar ou sequer atrasar o êxodo dos que, tendo perdido tudo já não têm medo de perder mais. Fogem à morte e estão sedentos de justiça. Eles chegam e assustam apesar das carências e da fragilidade. A razão e a fraternidade terão de impor-se no acolhimento com regras mas com respeito. Importa que cada ser humano que chega seja visto como um irmão, um potencial amigo, uma roda mais na engrenagem da qual depende também a nossa harmonia.

Edgardo Xavier
Enviado por Edgardo Xavier em 10/09/2015
Reeditado em 10/09/2015
Código do texto: T5377613
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