Teorema da calvície
TEOREMA DA CALVÍCIE
O título dessa crônica tem a ver com a teoria do físico americano Jonh Wheller na qual afirma que os buracos negros não têm cabelo.
E um sopro de vento atinge minha nuca ao começar a digitar este texto. Quando jovem, eu tinha uma cabeleira enorme, tipo cachopa, que cuidava com total carinho.
Num dia de muito calor, à beira de uma piscina, contei os passos, fechei os olhos e pulei. Quando voltei à tona, os amigos riam e eu não sabia o porquê, até que um deles, apontando para a minha cabeça, exclamou: você está ficando careca! Fingi que não liguei, mas logo fui até o banheiro e constatei o estrago. Em contato com a água, a cachopa abriu uma cratera bem ao meio e restou um vão claro que tentei, sem sucesso, ocultar.
Daquele dia em diante, eu já sabia que meus cabelos não resistiriam ao tempo.
Foi uma sentença desesperadora.
Lutei com diversas armas, de bosta de galinha preta a xampu importado, mas tudo que consegui foi aumentar o estrago. Aos trinta anos já ostentava a falha nos cabelos, o estilo moicano ao inverso, que me acompanha até hoje.
O mais estranho é que meu pai não era careca, nem meus irmãos.
A teoria do castigo às vezes passa pela minha cabeça moicana às avessas; talvez seja algum carma, a paga de algum pecado terrível.
Costumo dizer que não sinto falta, uso daquele estranho dito popular: é dos carecas que elas gostam mais, mas minto, na verdade gostaria, sim, de ter cabelos, só pra poder cortá-los e mudar o visual, me transformar numa espécie de David Bowie pantaneiro, pintar de ruivo, loiro, o escambau, ou apenas para sentir o prazer de entrar numa barbearia e pedir: Jonas corte americano, por favor!
Hoje já assumi a falha, mas não hesito comprar chapéus, tenho vários, que depois não uso, porque incomoda e também porque me sinto ridículo.
Teve um momento que ameacei usar bandana, que estava na moda, Romário e o cara do Guns N´ Roses a estavam usando; comprei uma azul com detalhes dourados, coloquei, olhei no espelho e o sentimento de completa aniquilação tomou conta de mim: nunca me senti tão ordinariamente ridículo.
Certa vez, sofri um grande constrangimento num ônibus, quando passei pela catraca e segui em frente, distraído, ate o cobrador me chamar: “ei careca, você se esqueceu de pegar o troco” e todo mundo olhou para mim, me transformando numa espécie de unicórnio,gnomo, centauro ou algo assim.
Recentemente fiquei sabendo que os japoneses criaram um produto que faz os cabelos renascerem.
Estou no aguardo que logo chegue ao Brasil, mesmo que pulse a dúvida: se depois de tanto tempo irei me acostumar com a cabeleira.
Talvez finalmente eu chegue à conclusão que melhor mesmo é a calvície e de pronto tenha em mãos navalha e tesoura.
Se nem os buracos negros, que são os buracos negros, não os têm, porque eu, um simples humano, haveria de ter cabelos?
Certo está um amigo que sofre do mesmo mal e bate no peito ao afirmar: “se cabelo fosse bom, não nascia no sovaco”.
É isso, o resto é teoria