OUVIR O SILÊNCIO.
Ele é grandioso porque nunca haverá paz.
Havia certa vez um homem que mantinha sua porta aberta a todos. Um dia fechou-a e não mais recebeu quem quer que seja, e todos batiam em sua porta querendo ouvi-lo novamente sem conseguirem.
Recolheu-se ao seu silêncio.
É nesse silêncio que se apagam as ocupações e as preocupações. É nele que se encontra a paz que entra em luta com as distrações todas, amenas ou não, que satisfazem os sentidos ou os deixam em pânico.
É o encontro do que não quer o corpo, mas pede o espírito, a luta forte e decisiva entre o interior, sua mensagem rica e nobre, e o exterior com todas suas conquistas falazes.
Esta a significativa porta que se abre para o encontro com o Deus de cada um, uno e plural.
Silêncio não é fuga da pobre oferta do mundo, ao contrário, recolhe-se a realidade ao ouvir falas diversas e sabê-las filtrar na sonorização interior. Onde está a púrpura nobre que veste virtudes e as vestes maiores?
Os sons vibram nas cordas e se fundem no pulsar da lira. Apontam uma esperança sombria de uma humanidade desumana.
Viver o silêncio não é morrer para o mundo, mas ouvir outro mundo.
Nada há de fundamentalismo nesse abraço da existência. O silêncio é vida.
Desapegado do ensinamento acolhido, não mais disponível diante de certezas e enganos, entrar definitivamente pela escolha em viver um maior silêncio não significa fugir do sol, cerrar portas e janelas.
Só se encontra a luz do silêncio caminhando na escuridão das palavras. O sol precisa ser visto e agradecido, muitos querem vê-lo e não conseguem, cegos não veem, muitos que têm visão fecham as janelas não permitindo sequer que o sol entre em sua sala. Não conhecem o silêncio, negam a sua luz.