O jogador
A queda na rede interrompeu a concentração do jogador, desconcertou-o, obrigou-o a contemplar o mundo em torno dele. Esperou impacientemente o retorno da conexão. Perderia muitos pontos.
Os segundos se sucediam, os minutos, enquanto a impaciência crescia. Constatou surpreso a bagunça ao redor, muito maior do que deveria ser. Levantou-se. Raramente percebia o mundo. Percorreu a casa avaliando com curiosidade e surpresa a desordem e a sujeira acumulada. Há muito tempo não atentava para o mundo.
Entrou no banheiro e se deparou com a estranha imagem de um homem no espelho. Era um homem maduro, com feições estranhas e descuidadas. Constatou estupefato que o homem no espelho era ele próprio. Uma onda de choque percorreu-lhe o corpo da cabeça aos pés, enquanto permanecia em frente ao espelho examinando a estanha imagem. Era ele aquele homem estranho; o adolescente lépido e suave havia sumido. Era um homem carrancudo. A tensão o invadiu. Quanto tempo teria passado?
Então era assim, o tempo, ia passando, simplesmente, passando, passando, sempre igual; e passava. Sem mais nem menos, sem nada; simplesmente passava. O tempo havia passado e ele já não tinha mais o rosto juvenil que conhecia, que imaginava; tinha um rosto estranho agora. A tensão o agitou, circulou pela casa, perplexo.
Retornou ao quarto; a conexão tinha voltado, finalmente. Retomou o jogo e a tranquilidade; recuperaria os minutos perdidos. A normalidade apaziguou sua mente.