"Clube dos carecas"

"CLUBE DOS CARECAS"

Houve um tempo, na minha adolescência, que eu não gostava dos meus cabelos por achá-los “ruins”. Eram ásperos, difíceis de pentear e esteticamente falando, não eram dos mais bonitos. Hoje, vejo como a vaidade naquela fase da vida era boba e precipitada. Quantas saudades eu sinto atualmente daqueles “cabelos ruins”! Eram feios, mas estavam lá, firmes e fortes. Acho que eu era tão contrariado com a aparência deles, que os mesmos resolveram abandonar-me, pulando fora do barco cada vez menos tripulado do meu couro cabeludo. Pois é, estou me tornando gradualmente mais um membro do “Clube dos carecas”. Para ser sócio deste clã, não é preciso ser rico, influente, articulado, popular ou poderoso. A combinação tempo e genética encarrega-se de fazer a convocação, lhe entregando a indesejada “carteirinha”. Sim, porque se fosse convite, acredito que poucos aceitariam. Se você for intimado pelo “Clube dos carecas”, meu amigo, esqueça: as chances de dispensa são menores do que as do serviço militar.

Acreditem, não sou do tipo vaidoso, muito pelo contrário, sou um cara despojado e acho o metrossexualismo um distúrbio psicológico narcisista e xarope. Mas eu confesso que sinto uma dorzinha no peito, ao perceber dia após dia, olhando-me no espelho, que os “heróis da resistência” estão tombando, ruindo, sumindo, dando lugar a um vazio incômodo e brilhante sobre minha cabeça. E o que é pior: o fenômeno está acontecendo de forma precoce, pois considero-me relativamente jovem para ser acometido por esse mal também conhecido por calvície.

Dizem os dermatologistas que se o futuro calvo for prevenido e atento, pode amenizar o problema, fazendo uso de uma tal finasterida, que evita a queda de cabelos. Por outro lado, eu também já ouvi algumas pessoas alegarem que o tal medicamento deixa o indivíduo um tanto “desanimado”, se é que me entendem. Folclore ou não, eu prefiro não arriscar, pois é melhor ser um careca atuante do que um cabeludo ausente.

Existem os outros artifícios como bonés e chapéus. Respeito quem adere a esses recursos, mas em mim eles provocam dores de cabeça, e além disso, não fico bem usando-os. Peruca? Não, aí já é apelação demais! Também ouvi falar de uma tal “prótese capilar”, com maior fixabilidade ao couro cabeludo. A ideia também não me seduz, pois na minha opinião, isso nada mais é que uma peruca com com adesivo potente.

A única solução que vejo, com certa eficácia, é o tal “transplante capilar”, que usa a área doadora do couro cabeludo do próprio indivíduo e faz a transposição dos fios, equacionando o martírio com uma aparência estética bem razoável e com uma naturalidade maior. Porém, a técnica ainda é um tanto cara, sendo necessárias, na maioria das vezes, duas intervenções cirúrgicas para que se alcance um resultado satisfatório . E eu admito que minha situação financeira não permite certas extravagâncias, sendo que além disso, tenho um medo danado de bisturi.

Querem saber de uma coisa?! Desisto. Já estou conformado com essa minha condição. Nas próximas eleições, já estou até pensando em candidatar-me para a presidência do “Clube dos carecas”...

* O Eldoradense