D U R E Z A
Por mais que eu jure ao meu neto como eram as coisas antigamente, ele não acredita, fica pensando que é gozação, brincadeira.
Quando digo a ele, por exemplo, que, menino, só comia maçã e tomava guaraná quando estava doente, ele começa a rir, gargalha. Não acredita de jeito nenhum. O mesmo e que usava roupa cerzida, mandava botar meia sola no sapato, andava pelas ruas descalço...
Mas pior é quando digo a ele que a luz elétrica apagava às dez horas da noite e uns dez minutos antes todo mundo se recolhia em casa e acendia os candeeiros. Explicar o que era candeeiro foi difícil.
Conto várias coisas, o perigo da série, os meninos acompanhando o palhaço, as caçadas de baleadeiras... Mas o que o que lhe causa mais espanto é quando conto como eram os namoros de antigamente, o ritual, a mocinha guardando a cadeira para o namorado no escurinho do cinema... Ele acha que é invenção. Masdia desses grelou os olhos e pensou que eu estava doido quando lhe disse, ele é um adolescente, que a maioria quase absoluta das moças, até de l8 e vinte anos eram virgens. Ele balançou a cabeça e disse que eu já estava caducando.
Não acredita na dureza do passado. E, cá para nós, com os avanços de hoje fica mesmodifícil acreditart. Mas como tenho saudade do passado.