Dança da Fé - Festa de Congado em Lagoa da Prata


A batida ecoa ao longe, invade as ruas do centro da cidade: é a formação dos Congadeiros  se preparando para suas rezas, entrega de coroas e pagamento de promessas. Uma das festas mais bonitas   e esperadas em Lagoa da Prata, vem saudar o mês de setembro e abrir um parêntese de três dias na vida da população. 

No Congado se destacam as tradições históricas, usos e costumes da Angola e do Congo.  A dança remete à coroação do Rei do Congo e da Rainha Ginga de Angola, com a presença da corte e de seus vassalos. Seus princípios  se fundamentam no movimento do sincrestismo e mesclam cultos católicos e africanos.

Pura emoção para quem vem participar ou assistir! Visitantes, turistas, fiéis ou simplesmente curiosos se aglomeram nas calçadas para melhor apreciarem o desfile ritualístico dos blocos. Lembrando uma exótica cobra coral,  eles vão se espichando  pela avenida com sua dança contagiante, cheia de evoluções e significados.

São mais de dez grupos, reunindo aproximadamente quarenta integrantes, cada um. Numa formação previamente elaborada, regidos por sua guarda, os mais velhos vão à frente, os pequeninos finalizam as fileiras. Algumas crianças são tão pequenas que mal conseguem segurar o pandeirinho, mas as famílias as iniciam  desde cedo nos festejos: são os futuros dançarinos que não deixarão morrer a festa folclórico-religiosa, de formação afro-brasileira que no ano passado completou cem anos de existência na cidade.

Após os ritos na casa do Rei, a mistura de cores vai se posicionando  nas laterais das ruas, dando início ao cortejo rumo ao Rosário. As fardas, cuidadosamente confeccionadas são vistosas, em cores alegres e vibrantes: calças e camisas franjadas,  faixas e coletes bordados,  paramentos  e  adereços que esbanjam brilho e  pedrarias faiscantes. Os santos de devoção, muitas vezes, estampados às costas, entre bordas douradas e emblemas de saudação, lembram a religiosidade e a fé. Chapéus, lenços e turbantes nas mais variadas combinações, ajudam a compor as centenas de cabeças que se curvam nas reverências próprias da dança ou para o beijo ao estandarte que abre cada grupo.

A dança é um espetáculo à parte. Em ritmo frenético, homens e mulheres de todas as idades, de todas as cores, giram, rodopiam, marcando uma coreografia harmoniosamente compassada ao som de variados instrumentos como cuíca, caixa, reco-reco, cavaquinho, tarol, tamboril, sanfona ou acordeon. Ah, e os pandeiros! Enfeitados de fitas multicoloridas, tomam conta do ar, numa estonteante explosão de tons e ritmos.  Cantos são entoados, e a batida de fundo dita as evoluções e volteios, num conjunto de rara beleza e harmonia.


À frente vão os  blocos comuns, separados entre si por carros em que se postam os andores dos santos padroeiros. Fechando o cortejo, segue o último bloco, convencionado o mais nobre da festa. Reis, Rainhas e princesas vêm vestidos com esmero em seus trajes  ricamente bordados, suas capas ornamentadas, protegidos por sombrinhas rendadas empunhadas por seus padrinhos e madrinhas. É a festa do povo, a festa da fé, mais uma que ficará na memória até que venha novamente setembro e tudo se refaça  com o mesmo entusiasmo secular.